Cultura nas suas múltiplas formas e nos também múltiplos modos de encarar: poder-se-ia definir assim o elo comum a este conjunto de 36 textos, que, escritos e publicados ao longo de vários anos, a partir de Espanha e França, consideram o impacto cultural de várias obras e referências culturais. Textos breves, mas cheios de referências particulares, que percorrem uma vasta gama de elementos para traçar, enfim, um retrato amplo do que é a cultura: tanto a das raízes como a que se vai aprendendo a conhecer. E é esta vasta diversidade também o cerne do que mais fica na memória, pois, com tantos nomes e tantas obras, abre-se um amplo espaço para a descoberta.
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar da brevidade, nem sempre é fácil entrar no âmbito das crónicas que o compõem. Porquê? Porque são muitas as referências invocadas, vasto o contexto que elas têm associado. E, assim, o que acontece é que, havendo embora nomes e obras familiares, são também muitos os perfeitos desconhecidos. Ora, o primeiro impacto cria uma certa confusão - pois quem são todas estas figuras? Mas esta impressão logo se dissolve e, uma vez assimilado o ritmo das palavras, fica uma imagem bastante mais intrigante: a de um mundo com laivos de familiaridade, mas que é também um ponto de partida para coisas a descobrir.
Também a escrita contribui para este despertar de curiosidade, pois ao acrescentar laivos de uma perspectiva pessoal ao conhecimento das obras e dos objectos, o autor transmite a quem o lê uma impressão de maior proximidade. Ora, ao ler-se sobre algo desconhecido, mas que deixou uma marca na memória, fica uma certa curiosidade em ver e saber mais. E, sendo certo que, destes pequenos textos, o que se tira (no que toca às referências desconhecidas) é essencialmente uma primeira impressão, fica também a vontade de aprofundar conhecimentos - até porque, de muitas dessas referências, fica também a sensação de haver uma história maior para descobrir.
A impressão que fica é, acima de tudo, a de um princípio de descoberta (com laivos de reencontro, quando se fala de obras já conhecidas). De uma descoberta que nasce de textos bastante sucintos, mas mais que capazes de despertar a vontade de saber mais. E como, no que toca à cultura, a curiosidade nunca é demasiada, é este incentivo à busca que se grava na memória - e que chega perfeitamente para que valha muito a pena esta leitura.
Título: O Beijo da Madame Ki-Zerbo
Autor: Adriano Mixinge
Origem: Recebido para crítica
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