domingo, 21 de janeiro de 2018

Ariadnis (Josh Martin)

Nada restou do mundo antigo a não ser a ilha onde os sobreviventes encontraram abrigo. Mas nem isso bastou para pôr fim aos conflitos e à divisão. Continuaram as lutas, as divergências e, quando também a nova morada ameaçava transformar-se em caos, uma entidade misteriosa surgiu para impor regras. Agora, nove gerações depois, as instruções da Sapiente aproximam-se da derradeira conclusão. As últimas Escolhidas estão quase a completar dezoito anos e, então, terão de se defrontar pela posse do livro da sabedoria. Mas o espírito dos Escolhidos anteriores diz-lhes algo de muito diferente e, apesar de serem completamente distintas, Aula e Joomia têm mais em comum do que imaginam. Só elas podem acabar com o conflito - mas a realidade é muito diferente daquilo que julgam saber. E, quando o caos começa a manifestar-se nas duas cidades, são muitas as verdades difíceis que vêm à superfície... e muito pouco o que resta para salvar.
Dividido entre o percurso das duas Escolhidas e com um cenário cuja estranheza e complexidade se manifesta desde muito cedo, este é um daqueles livros que primeiro estranha-se e depois entranha-se. De início, é tudo um pouco confuso - quem são os superiores, o que separa as duas cidades e o que têm em comum, os diferentes ritos, crenças e poderes dos dois lados do conflito. Mas é também isto que, à medida que vai sendo assimilado, começa a alimentar a necessidade de saber mais. Aula e Joomia são figuras centrais na história do seu povo, mas é o mundo que as rodeia, o contexto e as muitas regras que ditam o seu destino que faz com que a confusão inicial acabe por dar lugar a um certo fascínio.
Também as protagonistas são do tipo que cativa aos poucos. Claro que o contraste entre ambas desperta desde logo uma certa curiosidade, mas a verdade é que não são do tipo que desperta empatia ao primeiro contacto. Mas, curiosamente, também isto tem um lado bom. É que, numa história onde praticamente ninguém é o que parece, o facto de também as protagonistas serem multifacetadas e conterem muitas qualidades ocultas por entre os defeitos mais óbvios torna tudo mais intrigante e mais intensos os momentos em que esse lado mais marcante se revela.
Quanto à história, sobressaem, naturalmente, as reviravoltas inesperadas e a forma como tudo parece avançar num crescendo de intensidade rumo a um final que, apesar de profetizado, não deixa, ainda assim, de surpreender. Além disso, e apesar das perguntas deixadas sem resposta (até porque tudo indica que esta história terá continuidade), há algo de especialmente cativante na forma como o autor consegue cruzar elementos aparentemente previsíveis, como as insinuações de amores possíveis e as traições e reconciliações entre amigos e mentores, e daí fazer surgir algo de inesperado. Tudo isto contribui para a tal passagem da estranheza ao fascínio e faz com que, no fim, fique, acima de tudo, a vontade de descobrir o que se seguirá. 
Somadas as partes, a impressão que fica é a de uma história inicialmente um pouco estranha, mas que, uma vez assimiladas as suas peculiaridades, revela um muito agradável equilíbrio entre as suas muitas facetas peculiares. Intrigante, surpreendente e com vários momentos memoráveis pelo caminho, uma boa leitura. 

Título: Ariadnis
Autor: Josh Martin
Origem: Recebido para crítica

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