quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O Livro do Pó - La Belle Sauvage (Philip Pullman)

Malcolm Polstead é um rapaz atento e está habituado a ouvir as conversas dos clientes da estalagem dos pais. Tem também um certo talento para passar desapercebido. Mas algo está a mudar no mundo que o rodeia e, quando alguns visitantes misteriosos, começam a fazer perguntas, Malcolm dá por si intrigado - e envolvido. No centro do mistério, parece estar Lyra, uma bebé de poucos meses que todos parecem querer ter em seu poder. E, quando a tempestade chega, e com ela a maior cheia desde os tempos de Noé, Malcolm vê-se na necessidade de agir de forma rápida e decisiva para salvar a pequena Lyra. Não importa se os inimigos são poderosos. Não importa o perigo. Sabe que tem simplesmente de o fazer.
Dezassete anos depois da trilogia Mundos Paralelos, este é um regresso que talvez pareça um pouco tardio. Mas, e esta é uma das pequenas coisas a sobressair desta história, a passagem do tempo não se nota nada. Para quem não leu a trilogia, é perfeitamente fácil entrar neste mundo a partir daqui. Para quem, como eu, a leu há muito tempo, o facto de as recordações se terem tornado vagas em nada dificulta a leitura. Aliás, tendo em conta o ponto em que esta história se passa, é estranhamente fascinante entrar nesta história sabendo nada ou lembrando pouco, pois o mistério e a curiosidade de Malcolm tornam-se mais fáceis de compreender.
Também particularmente interessante é o facto de, apesar de a história se centrar principalmente em Malcolm, ser possível ver já os movimentos das várias forças em jogo. O papel futuro das várias personagens é aqui, em grande parte, desconhecido - pelo menos para o protagonista. E é precisamente este equilíbrio entre o que se assume já como uma grande teia e a inocência simples e corajosa de Malcolm que torna tudo tão marcante. Pois ele pode não saber o porquê de todos os perigos, os interesses que movem os seus adversários e que segredos se escondem no futuro da pequena Lyra... mas sabe o que tem de fazer, e isso basta-lhe.
Mas há mais para além deste protagonista forte e inocente. Há um mundo que, embora já conhecido da trilogia Mundos Paralelos, nunca deixa de surpreender. Há todo um conjunto de regras mais ou menos implícitas que constroem um equilíbrio delicado e fascinante entre o familiar e o completamente diferente. E há uma escrita que, apesar da considerável componente descritiva, capta a atenção desde os primeiros momentos e não deixa de cativar até ao fim.
No fim, fica a vontade de descobrir o que se segue o mais rapidamente possível - e também uma curiosa vontade de voltar atrás e reler a trilogia Mundos Paralelos. Sai também renovado o fascínio por este estranho - e estranhamente familiar - mundo e a ideia de que, às vezes, a história é feita dos heróis mais improváveis. Marcante, em suma, marcante e surpreendente. E, naturalmente, muito bom. 

Autor: Philip Pullman
Origem: Recebido para crítica

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