Lincoln é um menino bem comportado e, apesar de ter apenas quatro anos, está habituado a seguir as regras. Mas, naquele dia, as regras terão de ser diferentes. Quando Joan e o filho ficam presos no jardim zoológico com um (ou vários) homens armados à solta, Joan sabe que só tem uma opção. Precisa de encontrar um esconderijo seguro e de manter o filho calmo e calado até que tudo termine. Só que, a cada minuto que passa, o perigo aumenta. Ouvem-se tiros à distância, conversas próximas, choros indesejados. E, para proteger Lincoln, Joan terá de fazer escolhas, num momento em que nenhuma escolha poderá ser perfeita. Pois o papel de uma mãe é proteger o seu filho - e, nessa tarefa, não há limites.
Centrado principalmente no ponto de vista de Joan, ainda que narrado na primeira pessoa, este é um livro que, apesar de ter um tiroteio como ponto central, se centra mais nas reacções e no instinto de sobrevivência do que no perigo em si. Claro que isto se deve em grande parte ao facto de o lado dos atiradores ser visto apenas em alguns momentos, e de um ponto de vista algo fragmentário, mas também à ênfase que é posta mais na situação de Joan e Lincoln do que no contexto mais global. Afinal, Joan não é a única a lutar pela sobrevivência naquele jardim zoológico, mas a sua posição de mãe que precisa de proteger o filho a todo o custo faz com que os seus dilemas e incertezas ganhem uma dimensão maior.
Talvez seja também em parte por isto que se sente em todo o enredo uma certa ambiguidade. Moral, desde logo, pois, na situação da protagonista, é difícil não ter de fazer escolhas moralmente ambíguas. Mas também na própria avaliação das personagens, que estão muito longe de ser perfeitas e que por isso se tornam mais credíveis. Ora, esta ambiguidade transmite-se para o leitor, pois não havendo na história ninguém que desperte uma empatia incondicional, mas antes momentos em que esta empatia emerge e outros em que parece atenuar-se, sente-se um certo distanciamento das personagens.
Não que isto retire envolvência ao enredo, pois, apesar do ritmo pausado e desta ambiguidade de sentimentos, nunca esmorece a vontade de saber de que forma vão acabar as coisas. E, sendo certo que ficam muitas perguntas sem resposta, até porque a autora se demora em partes do passado que nem sempre chegam a formar um todo, faz um certo sentido que o livro termine da forma como o faz: num limiar que não dá todas as respostas, mas deixa uma ideia de um percurso duro e perigoso que finalmente chegou ao fim.
Tudo somado, fica a impressão de um livro pausado, mas intrigante, e em que a determinação da protagonista compensa amplamente as coisas que são deixadas por dizer. Cativante, surpreendente e com uma muito intensa visão do que é ser-se mãe em circunstâncias perigosas, uma boa leitura.
Título: Reino de Feras
Autora: Gin Phillips
Origem: Recebido para crítica
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