Crau conseguiu salvar Blackstone do Tecedor, mas o mal nunca desaparece verdadeiramente. E, quando pensa ter finalmente algum tempo para se adaptar e desenvolver as suas capacidades, o seu caminho cruza-se com um novo inimigo - e um legado que a mãe lhe deixou e que tem de proteger a todo o custo. Há uma nova feral maléfica em Blackstone e os seus planos para a cidade são tão ou mais terríveis que os do Tecedor. Para a combater, Crau precisará de toda a ajuda que conseguir e também de renunciar a alguns dos seus segredos. Mas, quando o perigo se adensa e uma verdade dura vem à tona, Crau sabe que, no fim, dependerá de si estar à altura da sua linhagem e salvar os seus amigos de um destino terrível.
Mantendo o mesmo registo directo e de acção constante, mas acrescentando-lhe um novo peso com mais descobertas do passado e um conjunto de relações mais próximas entre as personagens, este livro que, embora dando continuidade a O Rapaz que Falava com os Corvos, põe Crau e os seus amigos numa aventura essencialmente nova, cativa, em primeiro lugar, pelo delicado equilíbrio entre a simplicidade da história, a intensidade de acção e a inesperada força das emoções que desperta. Continua, é claro, a ser uma história pensada para um público jovem, mas este elevar do impacto de todos os elementos torna a história consideravelmente mais marcante, deixando uma impressão bastante mais duradoura - e uma vontade quase irresistível de ler o final da trilogia.
Também há uma evolução considerável em termos de complexidade, não propriamente do enredo, que continua a seguir a já esperada linha da acção quase constante, em que o contexto vai surgindo à medida que é necessário, mas pelo contexto em si e pelo desenvolvimento das personagens. O contexto é agora mais amplo, pois novos elementos como a situação da Mãe das Moscas e o segredo da pedra permitem uma percepção mais ampla da situação, levantando também algumas questões pertinentes sobre a alegada superioridade moral de alguns ferals. E as personagens acabam também por se tornar mais complexas, seja pelas escolhas que têm de fazer, seja pelo reconhecimento dos erros que traz consigo novas decisões.
Ah, e claro. Continua a não haver gente perfeita neste livro - muito menos o próprio Crau. Agora mais consciente dos seus poderes, não deixa, ainda assim, de ser uma figura com fraquezas, com dúvidas, com medos. E isso torna tudo muito mais empolgante, pois é possível sentir essas mesmas dúvidas e medos ao longo de toda a aventura, o que reforça ainda mais o impacto dos momentos mais emotivos.
Simples quanto baste, mas inesperadamente intenso, eis, pois, um segundo volume que eleva a um novo nível as qualidades do livro anterior. Cativante, sempre agradável, e com a mistura certa de acção, emoção, magia e um toque de humor, um livro que superou amplamente todas as expectativas. Muito bom.
Título: Ferals - A Mãe das Moscas
Autor: Jacob Grey
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário