Tal como a maioria das pessoas do seu tempo, Brunhilde nunca deu grande importância à política. Pensava acima de tudo na sua vida, em ter um bom emprego e alguma estabilidade, num tempo em que ter um emprego estava muito longe de ter uma certeza. E foi com isto em vista que acabou por se filiar no partido e depois por trabalhar como secretária para o Ministério da Propaganda. A verdade - e principalmente os crimes do regime - viriam mais tarde à superfície, mas Brunhilde nunca se sentiu culpada. Não sabia. Não pensava nisso. Esta é a história da sua vida - e das muitas lições que dela se podem tirar.
Uma das primeiras coisas a sobressair neste livro - e também a que mais vai reforçar a sensação de ambiguidade ao longo de toda a leitura - é a forma como toda a posição de Brunhilde Pomsel parece assentar numa grande inocência. Tendo chegado a trabalhar quase que no coração do regime e tendo-lhe tantos documentos passado pelas mãos, é difícil imaginar que, movida apenas pelo interesse de controlar a sua vida e de conquistar a confiança dos seus superiores, ela nunca tivesse olhado e que, por isso, não soubesse realmente de nada. Mas, curiosamente, é também esta ambiguidade que salienta o impacto desta biografia. É que, olhando para trás, é fácil imaginar que faríamos diferente. Mas, tendo em conta os problemas que se vivem hoje e a forma como têm sido abordados, será que faríamos mesmo?
O que me leva ao que é, sem dúvida, o ponto mais relevante desta leitura. Não é tanto a biografia de Brunhilde Pomsel que importa, pois, embora seja muito pertinente, a verdade é que não acrescenta muita informação nova - porque ela própria sabia tão pouco, afinal. Mas é esta mesma posição de saber tão pouco e de querer saber tão pouco que, transposta para o presente, traça todo um conjunto de questões relevantes sobre a forma como o presente pode estar a repetir os erros do passado. O longo texto final que explora estas questões coloca tudo numa perspectiva mais clara - e é esse contraste, essa possibilidade, que acaba por tornar tão importantes as conclusões desta leitura.
Não é propriamente um livro onde se possa procurar um contexto histórico amplo ou grandes informações sobre o regime. Mais uma vez, é mais o tanto que se desconhecia que marca nesta leitura. Mas, deste grande desconhecido e da forma como tudo isto se pode transpor para a realidade, fica um impressão muito forte: a de uma leitura muito pertinente - muito importante - para evitar que os erros do passado se repitam.
Título: Uma Vida Alemã
Autores: Brunhilde Pomsel e Thore D. Hansen
Origem: Recebido para crítica
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