Todas as forças têm interesse no poder de Maika Meiolobo. Já ela só quer respostas. Mas, para as obter, precisa de regressar a um passado de que mal se recorda, ao pouco que lhe resta das memórias da mãe, e de encontrar o caminho para um lugar de onde poucos regressam vivos. Restam-lhe alguns aliados, é certo, e até alguns com mais lealdade que a que merece. Mas descobrir o que tem dentro e o que a fez assim não lhe trará paz e muito menos refúgio. Pois há demasiadas forças em conflito - e o demónio de Maika pode muito bem ser o que faz mudar a guerra.
Tal como aconteceu com o volume anterior, basta um primeiro olhar à capa e um folhear superficial para reconhecer a primeira das muitas grandes qualidades deste livro: a imagem. Há ao longo de toda esta história uma beleza sombria e perturbadora que, ainda que alimentada pelos elementos da história em si, surge, em primeiro lugar, do fortíssimo impacto visual. E tudo é belo neste livro - mesmo as sombras. As várias personagens, os cenários em que se movem, até o próprio traçado dos combates ganha uma outra intensidade por ser ilustrado da forma como é. E, quando basta um olhar para aumentar as expectativas... bem, o resto nunca pode desiludir.
Se já no primeiro volume se tornara evidente que estava muito longe de ser uma história simples e linear, este novo livro eleva as coisas a um outro nível. Surgem novas personagens, novas partes interessadas no conflito e até mesmo conflitos e revelações passadas que conduziram às dificuldades do presente. O universo da história expande-se um pouco mais e, com ele, também o espectro de ligações e lealdades se molda numa nova forma. E o caminho, longo, mas absurdamente viciante, completa-se com uma impressão também muito poderosa: a de que foram dadas respostas (e grandes respostas), mas que estas deram lugar a ainda mais (e maiores) perguntas.
Mais uma vez, tudo parece girar em torno de Maika, que continua a ser a personagem mais fascinante em todo o enredo - e agora por novos motivos. Mas há algo que se aprofunda também aqui um pouco mais, não só em Maika, mas em várias das outras personagens: a impressão de ambiguidade moral. Não há propriamente uma fronteira clara entre o certo e o errado e só as raras personagens inocentes é que vislumbram algo que se lhe assemelhe. Para os restantes, há força, há conflito e há necessidade. E, sendo isto que os move, é particularmente fascinante a forma como, ainda assim, se geram empatias e aversões.
A impressão que fica é a de um livro belíssimo e fascinante, em que tudo - luzes e sombras, inocência e crueldade, emoção e indiferença - contribui para dar forma a uma história onde cada novo momento é uma surpresa e há todo um labirinto de mistérios para revelar. Intenso, fascinante e cheio de promessas, um livro mais que à altura das expectativas. Maravilhoso.
Título: Monstress - O Sangue
Autores: Marjorie Liu e Sana Takeda
Origem: Recebido para crítica
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