Alasca. A última fronteira. A grande solidão. E, para os Allbright, talvez um novo começo, menos assombrado pelas marcas da guerra que fizeram de quem antes era supostamente um bom homem um indivíduo instável e violento. O início faz-se de esperança para Ernt, Cora e a jovem Leni. Mas, à medida que as dificuldades se tornam evidentes, também as sombras de Ernt começam a vir novamente à superfície. Seguem-se os conflitos, a violência. E para Leni, que encontrou no Alasca um lar como jamais imaginou e um amor destinado a durar para sempre, viver à sombra do medo começa a tornar-se cada vez mais insuportável.
Basta um olhar para a capa para encontrar uma boa forma de descrever este livro: uma épica história de amor. Porque é de amor que se trata, embora não daquele que inicialmente julgamos estar no cerne do enredo. É uma história de amor, sim, mas também de brutalidade e violência, de provações e de esperança. E é precisamente isso que torna este livro tão angustiante quanto cativante.
É também uma história complexa, tal como o são as suas personagens. A relação entre Ernt e Cora, com tudo o que tem de disfuncional, torna-se ainda mais complicada no Alasca, com as grandes dificuldades da vida num local tão remoto a associar-se à tendência de Ernt para o conflito e para a obsessão. Leni, apanhada no meio de uma guerra pessoal, vê-se dividida entre amor e ódio, entre a necessidade de fugir e um sentimento que, ainda assim, não consegue negar. E pelo caminho há toda uma vastidão de crescimento: a adaptação ao Alasca, a descoberta das suas capacidades de resistência, o amor... com todas as suas consequências. E tudo num equilíbrio tão preciso de intensidade e de complexidade que a ambiguidade sentida pelas personagens transmite-se também para o leitor, moldando os traços de uma história memorável.
Voltando ainda uma vez mais ao amor, importa ainda destacar outro elemento. Nem só do amor disfuncional entre Ernt e Cora vive a história, nem do profundo e doloroso amor entre Leni e Matthew. Há também o amor de Cora por Leni, com todas as decisões difíceis (certas e erradas) que isso implica, bem como os sentimentos fortes que unem uma comunidade sólida e coesa construída em torno da sobrevivência. Há um percurso longo, complexo e, sim, épico na história destas personagens. Um percurso notável e escrito com uma precisão marcante.
Duro e cruel como o cenário que lhe serve de base, mas profundamente emotivo e marcante em todas as suas facetas, trata-se, pois, de uma história complexa, em que o amor é tão intenso na sua máxima disfuncionalidade como no verdadeiro sentido da palavra. Belo e poderoso, um livro memorável. Que não posso deixar de recomendar.
Título: A Grande Solidão
Autora: Kristin Hannah
Origem: Recebido para crítica
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