Antes de se tornar na figura mais influente e temida da região, Euless Boss foi um rapaz apaixonado pelo futebol, disposto a resistir a tudo para entrar na equipa e a fazer tudo o que fosse preciso para se manter no meio. Poderoso e sem escrúpulos, rapidamente lidou com o único que se atreveu a fazer-lhe frente - mas esse acontecimento trouxe-lhe memórias. Segue-se, pois, uma longa viagem ao passado, com a promessa de que, depois da entrada em cena de Earl Tubb, nada voltará a ser exactamente o mesmo. Ainda que todos insistam em fingir que nada de grave aconteceu.
Talvez não seja inteiramente surpreendente, tendo em conta a forma como o volume anterior termina, mas não deixa de ser um aspecto peculiar o facto de este segundo volume conferir a uma outra personagem o foco da história. Se no volume anterior Euless Boss era o principal antagonista, agora é a sua história que vem à superfície: uma história cheia de sombras e de violência, pintada (tal como a de Earl, aliás) a vermelho sangue, mas que dá à sua posição toda uma nova perspectiva.
Boss, o treinador, é um indivíduo claramente sem escrúpulos - e há um funeral nesta história que serve perfeitamente para nos lembrar disso. Mas Euless, o rapaz com o seu sonho, é estranhamente vulnerável: desprezado pela maioria, preso numa relação com o pai que é tão má que disfuncional não chega para a descrever e agarrado a um sonho cada vez mais impossível. É fácil compreender o porquê da sua tenacidade. Ora, isto gera, naturalmente, sentimentos contraditórios - principalmente sabendo aquilo em que ele se tornará. Mas é também isso que torna a sua história tão notável: realçando os matizes de um cenário onde não há simplesmente bons e maus. O que há é ambições e o preço delas - e a violência necessária para concretizar o que se pretende.
E depois... bem, há tudo o resto. A intensidade dos grandes momentos, o contraste vincado entre a pura violência e o que é, afinal, ainda e sempre um sonho - contraste este que transparece não só de uns quantos diálogos particularmente certeiros, mas da expressividade patente na arte, principalmente no que toca às feições das personagens. E desolação, claro. Uma desolação estranha, mas quase palpável, que resulta de uma história de sacrifício e sangue derramado em nome de algo que é duvidoso se vale a pena.
Com um novo olhar a uma das personagens mais relevantes e um estranho equilíbrio entre os sonhos e as suas consequências, expande cenário e personagens para prometer ainda mais para o que virá. Intenso, sombrio e inesperadamente complexo, trata-se, pois, de um segundo volume mais do que à altura das expectativas geradas pelo primeiro. E que recomendo, naturalmente.
Autores: Jason Aaron e Jason Latour
Origem: Recebido para crítica
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