Rosalina, Filomena e Joana, três gerações de mulheres unidas pelo sangue e pela memória, a ver a vida passar em busca de algo de sentido e de realização. Rosalina, criada pela tia para a submissão, vendo a sucessão de sofrimentos e apegando-se à religião para se encontrar. Filomena, arrastada pelos pais para um sonho diferente, para depois cair nos mesmos abismos. E Joana, determinada a ser diferente na recusa de um verdadeiro apego. Cada uma única à sua maneira, mas com tanto em comum para além do sangue que as une. Estas são as suas vidas. Esta é a sua história.
Dividido entre as três protagonistas e assente num percurso que é tudo menos linear, este é um livro difícil de descrever. Feito maioritariamente de instantes e de fragmentos, parece viver mais de impressões do que de uma linha precisa de acontecimentos. E, no entanto, há tanto a acontecer... A história de Rosalina é a história de uma longa vida e, embora construída através de muitos pontos, a imagem que fica é a de uma mulher completa, tão completa como as outras mulheres que deixa ao mundo. E, assim, o que aparenta ser uma sucessão de fragmentos constrói uma memória tão ampla como inefável. Difícil de descrever, em suma, mas presente, ainda assim.
Há também uma certa poesia neste registo tão peculiar. Há acontecimentos exteriores, e capazes de deixar grandes marcas, mas há também uma vasta introspecção, que vai dos conflitos interiores das personagens à sua sempre mutável percepção da vida e de quem são. São muitas as frases notáveis a emergir ao longo da leitura, as imagens que fazem eco no seu interior. E mais uma vez surge a mesma estranha imagem de um livro que vive mais das impressões individuais do que da história como um todo a que elas dão forma.
Torna-se mais pausado devido às oscilações: entre presente e passado, entre as protagonistas e aqueles que as rodeiam, entre os laivos de acção e a vasta introspecção. Mas faz também todo o sentido que assim seja: afinal, o que emerge destes momentos é um registo íntimo, interior, da vida e da mente das personagens. E, assim sendo, é apenas natural que seja necessário tempo e profundidade para assimilar todas as suas facetas. Há complexidade nas profundezas do ser e isso é algo que fica muito claro ao terminar esta leitura.
É, pois, tão difícil descrever o livro como as impressões que ele provoca. Mas fica a estranha e fascinante sensação de se ter percorrido como que um labirinto: o labirinto da vida das personagens, de onde, tal como elas mesmas, não se sai igual. É esta, acima de tudo, a marca que fica desta leitura: a de um livro poético, complexo, mas cheio das mais profundas verdades íntimas. Memorável, em suma.
Título: A Terceira Mãe
Autora: Julieta Monginho
Origem: Recebido para crítica
Gostei da resenha, fiquei curiosa pela leitura do livro, você poderia me indicar algum site brasileiro para compra, pesquisei aqui, mas só encontrei em livrarias estrangeiras, achei muito caro, só em euros.
ResponderEliminarPois, não conheço nenhum. Sei que a Wook faz envios internacionais, mas talvez fique um pouco mais caro...
EliminarFoi o último livro que li. Difícil de ler em tempos de quarentena em que a dispersão está a ser maior. Mas um livro poético e muito belo. Também escrevi sobre ele, como sempre faço quando acabo uma leitura e gostei muito da maneira como abordou este livro de Julieta Monginho. Parabéns. Almerinda
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