Ainda nos dias de hoje não faltam proibições que nos parecem absurdas, seja por herança de tempos passados, seja por razões mais insondáveis e peculiares. Mas foi o chamado "tempo da outra senhora" o verdadeiro reinado da proibição. Era proibido ir de minissaia para o liceu, era proibido usar isqueiro ou andar de bicicleta sem licença e, como todos sabemos, era proibido ler, escrever ou publicar certos livros. É para os meandros destas proibições que este livro nos convida a viajar, percorrendo não só as mais conhecidas, mas também algumas das mais... invulgares.
Talvez não seja a faceta mais importante, mas um dos primeiros aspectos a chamar a atenção neste livro, contribuindo também para o tornar mais apelativo, vem dos elementos visuais. Entre cartazes publicitários, objectos e fotografias, basta um primeiro folhear para despertar a sensação de regresso ao passado. E, sendo uma história de passados proibidos, estes lampejos desse tempo tornam-se mais interessantes, pois, além de traçarem um retrato visual da época, permitem associar imagens aos "frutos" proibidos.
Outro aspecto que importa destacar é que, embora sendo relativamente breve, pois haveria decerto muito mais a dizer sobre estas proibições e respectivas consequências (principalmente no que toca os livros), trata-se de um livro bastante completo. Dedicando poucas páginas a cada proibição, consegue, ainda assim, no seu registo leve e com laivos de um humor delicioso, traçar uma imagem bem viva do tempo de todas essas proibições. E não só. É que algumas perduraram, outras nunca existiram realmente a não ser nas tácitas normais sociais. E, assim sendo, é inevitável uma certa reflexão, não só sobre o contraste entre a liberdade actual e as proibições do passado, mas também na forma como certas visões de moralidade se podem tornar lei, mesmo não o sendo efectivamente.
Mas nem só do passado vivem as proibições, embora sejam as desses tempos as protagonistas. Há ainda espaço para pequenas observações sobre os problemas e proibições actuais, o que, além de fazer lembrar que há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito a certas liberdades, realça o já referido paralelismo entre moral social e imposições legais. Será, talvez, um aspecto secundário, mas não deixa de ser também muito interessante.
Tudo somado, fica desta leitura a impressão de uma agradável e relevante viagem às proibições de outro tempo, num registo leve e descontraído, mas que nada retira à importância dos temas abordados. Afinal, algumas das proibições desapareceram... mas a memória, essa, continua bem presente.
Título: Era Proibido
Autor: António Costa Santos
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário