Na sua profissão, Mary Shields está habituada a lidar com uma boa medida de casos desagradáveis, gerindo o regresso à liberdade de agressores, pedófilos e violadores. Mas agora, quase a chegar à reforma, Mary está farta de tudo isso. Com apenas um mês até à reforma, só quer acabar com tudo. Mas as coisas estão prestes a ficar perigosas. O seu mais recente "cliente", que assassinou a mulher e está prestes a sair em liberdade, escreveu um livro que fez dele um herói para os chamados "defensores dos direitos dos homens". E, ao tentar gerir as consequências dessa fama, Mary vê-se arrastada para o mundo de Liam, comprometendo o seu emprego, a sua família e tudo o que alguma vez amou.
Com um equilíbrio delicado entre o humor e a tragédia, este é um livro que se torna memorável através das suas imperfeições. Deliberadas, claro. Mary pode ser muitas coisas, mas está bem longe de ser um ser humano perfeito e imaculado. E é isso que torna tudo tão empolgante: tendo em conta a sua profissão, é apenas natural que Mary se sinta saturada de todos os males que encontrou pelo caminho. Mas não é heroína nem mártir. Há algo de deliciosamente engraçado na forma como Mary interage com os seus "clientes" e que vicia desde as primeiras páginas.
Mas falei em tragédia, não foi? Bem, é outra das forças deste livro. Tudo começa com uma certa leveza, misturada com a inevitável repulsa gerada por certos comportamentos dos "clientes" de Mary, mas divertida, ainda assim. Com o evoluir da história, porém, há uma certa escuridão que começa a pairar sobre tudo, não só devido aos muitos inimigos que Mary foi fazendo ao longo da vida, mas principalmente devido às suas próprias más decisões. É maioritariamente "uma maluca das boas", mas as más decisões trazem consigo consequências terríveis. E a sensação de mau presságio que gradualmente se vai formando abre caminho a um final impressionante e inesperadamente devastador, em que algumas perguntas ficam em aberto, mas uma coisa é clara: há coisas que já não têm salvação.
Ainda um outro aspecto a ter em conta é o tema global. Liam Macdowall está no cerne de uma guerra entre feministas e defensores dos direitos dos homens e esta aparente guerra parecer ser um factor dominante ao longo de todo o livro. Ainda assim, e embora Mary seja uma mulher de convicções firmes, há uma visão que se centra, acima de tudo, nas zonas cinzentas. Não é difícil distinguir o certo do errado, mas, ao reflectir a natureza das personagens através das suas acções, este livro permite ao leitor pensar e decidir por si mesmo qual dos lados está certo. Além disso, a história de Mary é um exemplo claro de como as boas intenções podem gerar consequências terríveis. Ter razão e agir de forma correcta nem sempre são a mesma coisa.
Humor e tragédia, então, e um delicado equilíbrio entre a leveza dos elementos mais provocadores e a profunda e importante mensagem escondida nos pensamentos das personagens. Tudo numa história intensa, viciante e memorável, cheia de momentos notáveis e personagens fáceis de adorar - ou de adorar odiar.
Título: Worst Case Scenario
Autora: Helen Fitzgerald
Origem: Recebido para crítica
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