quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Processo (Franz Kafka)

Tudo começa na manhã em que Josef K. é informado, pelos agentes que ocuparam o lugar onde mora, de que é acusado num processo e que, por isso, se encontra detido. Acusado de quê, não sabe, nem nunca saberá, já que ninguém parece interessado em esclarecê-lo. Aí começa o seu processo, um turbilhão de dúvidas e acções confusas num cenário onde a burocracia é interminável e tudo e todos parecem ter alguma relação com o tribunal. Labiríntico e intrincado, o processo de K. reflecte um sistema indiferente, com uma justiça que define culpados até prova em contrário. Tudo é estranho... mas parte dessa estranheza é também fascinante.
Se há algo que se reconhece desde as primeiras páginas deste livro, é que não apresenta nem uma história simples nem uma leitura fácil. Não é que a escrita em si seja particularmente elaborada, mas é-o o sistema. Todo o sistema construído em torno do processo é uma teia de complicações, com elementos improváveis e surreais a servirem de base a uma justiça difícil de compreender - quer para o acusado, quer para os que parecem pertencer ao lado da lei. O enredo é, por isso, tudo menos linear. Há momentos confusos e situações inexplicáveis. O próprio comportamento das personagens é, por vezes, contraditório, tal como o são as complexidades da justiça que representam. Quanto a K., oscila entre a indiferença e o desespero, à medida que o processo evolui, sem na verdade mudar seja o que for para lá da sua própria percepção de futuro.
Mais que a história de Josef K., este livro representa um retrato - algo exagerado, talvez, mas certeiro em muitos aspectos - de uma justiça que, com toda a sua burocracia e irredutível impassibilidade, acaba por ser inevitável por todas as piores razões. Para o demonstrar, surgem as longas exposições de algumas das personagens, expondo, numa exaustiva descrição de detalhes que reforçam o caos do sistema, toda a dimensão da sua burocracia. São, naturalmente, momentos mais cansativos, que, curiosamente, ao transmitir essa impressão a quem lê, acabam por reforçar a ideia de qual será o ªanimo de Josef K., preso nesse mesmo sistema que cansa e desespera mesmo apesar da distância.
Muitas vezes descritivo, e com várias mudanças de cenário a deixar perguntas sem resposta, este não  é, propriamente, um livro de grandes momentos. Há, ainda assim, um que se destaca, e o impacto é tão maior pela intensidade com que surge, depois da lentidão do processo. Se todo o percurso ao longo do processo é um cenário de caos com o acusado como ponto de união, a conclusão é o ponto de máximo impacto. Intenso e brilhantemente construído, o fim da história de K. é memorável, tanto pelo contraste com o arrastar da situação nos capítulos anteriores, como pela forma como conclui a luta do protagonista contra o sistema. Tudo o que foi reflexão até ali ganha impacto com aquele único momento de emoção. O resultado é um momento brilhante.
Complexo, de ritmo pausado e com um enredo que é tudo menos linear, este é, portanto, um livro com tanto de estranheza como de fascínio. Cansativo, por vezes, mas muito interessante na construção do sistema judicial que apresenta, cativa pelo ambiente enigmático e algo surreal, abrindo caminho para uma fortíssima surpresa na forma como tudo se conclui para o protagonista. Fica na memória, portanto, esta estranha história. E vale a pena ler.

Goor - A Crónica de Feaglar: Nova edição do primeiro volume

Durante uma época ensombrada pelo despontar de novos conflitos e intrigas, a enigmática princesa Gar-Dena chega inesperadamente à corte do próspero reino Dhorian, no intuito de avisar o rei Feaglar para um terrível perigo latente que ameaça a liberdade e a própria sobrevivência de todos os Homens. Este será o ponto de partida para os acontecimentos relatados em Goor – A Crónica de Feaglar, que decorrem no período da Guerra dos Sete Reinos.Trata-se de uma fantástica aventura do rei e dos seus companheiros, que os levará aos limites das suas capacidades e aos confins do mundo conhecido, enfrentando inúmeros perigos e a herança de um nebuloso passado que foi propositadamente apagado da memória de todos os povos. O jovem e idealista rei, referido pelas antigas profecias como o Escolhido, terá de superar as suas próprias fraquezas e dúvidas, contrariar um destino sinistro e uma complexa teia de mentiras, urdida desde tempos imemoriais e em que ele próprio está envolvido.Em causa estará o próprio valor intrínseco do Homem e a sua determinação em sobreviver. Esta será uma jornada em que o futuro estará num indeciso limbo e em que tanto a vitória como a derrota podem acarretar um sacrifício demasiado doloroso para aqueles que aceitam o desafio que lhes é colocado. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Intruso (Carina Rosa)

Sara está à beira do abismo. Desde que o noivo morreu no dia do casamento que se afundou numa depressão que, com o passar do tempo, apenas se agravou. Sara vê-o em toda a parte, sente-o como uma presença invisível, encontra-o nos seus sonhos. O passado é uma sombra da qual não se consegue libertar. Mas tudo muda quando conhece Martim. Apesar das circunstâncias desastrosas em que se conhecem, basta um primeiro olhar para que ambos sintam que já se conheciam antes, talvez de outro tempo, e que há um sentimento forte à espera de nascer nas suas vidas. Mas Rodrigo permanece presente na vida de Sara e não está disposto a libertá-la, muito menos a vê-la feliz com outro homem. O romance entre ambos não pode acontecer. E ele fará o que for necessário para o impedir.
Em parte romântico e em parte sombrio, este é um livro que, não sendo particularmente elaborado, cativa principalmente pela história envolvente. As sombras na vida de Sara e os elementos sobrenaturais que se vão revelando opõem algo de obscuro à quase leveza com que o afecto vai crescendo entre os protagonistas, o que contribui para que a história se mantenha envolvente. Além disso, o facto de tanto Sara como Martim terem um segredo no passado torna as suas histórias complementares, despertando, ao mesmo tempo, algo de empatia para com eles. Importa ainda acrescentar que, apesar de muito do enredo se centrar nos protagonistas, há alguns elementos aparentemente secundários que, além de cativantes (e, no caso de Mike, enternecedores) acabam por ser muito relevantes para o enredo. 
Ainda que haja vários momentos de acção, o ritmo não é propriamente compulsivo. Principalmente no início, a descrição dos sonhos e de algumas características do cenário cria para a evolução do enredo um ritmo relativamente pausado. Para isso contribuem também alguns recuos a acontecimentos passados, que, ao serem apresentados aos poucos, permitem prolongar um pouco o mistério, mas que, não estando bem identificados e uma vez que surgem numa fase inicial da história, quando as personagens ainda não são muito familiares, tornam a leitura um pouco confusa. Esta estranheza inicial desaparece com o maior desenvolvimento da relação entre os protagonistas, levando a que a história cresça em intensidade à medida que novas revelações são apresentadas.
A nível de escrita, há algumas fragilidades a apontar, não muito graves, mas facilmente detectáveis. Há algumas gralhas ao longo do texto, mas não ao ponto de prejudicarem muito o ritmo de leitura. E há alguma confusão no sentido de algumas palavras e no uso de alguns tempos verbais, fazendo com que partes do texto pareçam um pouco mais confusas do que poderiam ser. Não são falhas que surjam com muita frequência, mas, por serem facilmente reconhecíveis, acabam por quebrar um pouco a envolvência do enredo.
De referir, por último, que, ainda que não fiquem grandes pontas soltas no enredo principal (excepção feita ao final, particularmente ambíguo, mas adequado, tendo em conta as circunstâncias do enredo), há algumas questões que ficam sem resposta, principalmente no que diz respeito a uma das presenças sobrenaturais, mas também à sensação de reconhecimento entre Sara e Martim, que nunca é completamente explicada. Não são respostas essenciais ao desenvolvimento do enredo, é certo, mas fica sempre algo de curiosidade e a sensação de que mais poderia ter sido explorado neste aspecto.
Tudo somado, a impressão que fica deste livro é a de uma história relativamente simples, mas com um bom enredo e um interessante toque de mistério. Haveria, talvez, mais a desenvolver nalguns aspectos da história e mais algumas questões que poderiam ter sido esclarecidas. Foi uma leitura agradável, ainda assim, e com um lado sombrio particularmente cativante. Gostei, portanto.

Novidade Porto Editora


Além de perito em arte, Perfecto Cuadrado é um habilidoso falsário, que viaja pelo mundo desenhando rostos anónimos no metropolitano e coleccionando mulheres belas e sedutoras. É um homem experimentado na arte de seduzir e de amar. Nada faria prever que se apaixonasse de forma eruptiva por uma mulher misteriosa com quem se cruzou no metro de Londres – Josephine K.
Para Perfecto Cuadrado, a vida é uma sucessão de planos, sendo o presente um refluxo do passado, exceptuando dois acontecimentos súbitos: os distúrbios que incendeiam a cidade de Londres e a paixão que arde dentro dele.
A Paixão de K. é uma viagem à insensatez de todas as paixões.

Miguel Miranda é médico e autor de vários romances, livros de contos e livros infantis. Recebeu o Grande Prémio de Conto da APE pelo livro Contos à Moda do Porto  (1996); o Prémio Caminho de Literatura Policial pelo livro O Estranho Caso do Cadáver Sorridente (1977); e o Prémio Fialho de Almeida pelo livro  A Maldição do Louva-a-Deus (2001). Está traduzido em Itália e representado em diversas colectâneas. A Paixão de K é o seu oitavo romance, depois de Dai-lhes, Senhor, o Eterno Repouso e Todas as Cores do Vento, já publicados pela Porto Editora.

Novidade Esfera dos Livros


Em 1536 começava a funcionar, em Évora, onde a corte residia, a Inquisição. O seu objectivo principal era defender a fé e a Igreja. A bula papal da fundação explicitava a natureza dos crimes sob a sua alçada. Apelava-se a todos que denunciassem qualquer pessoa suspeita de ter aderido às crenças luteranas, observado cerimónias e costumes judaicos ou islâmicos, negado a existência da vida eterna, acreditado na transmigração das almas até ao dia do Juízo, contestado a virgindade de Nossa Senhora ou que Cristo fosse o Messias prometido no Antigo Testamento, praticado a bigamia, bruxaria ou feitiçaria, possuído livros para celebrar sabats nocturnos ou outros defesos pela Igreja, incluindo bíblias escritas em línguas vernáculas. Iniciava-se uma perseguição que levou milhares de vítimas, homens e mulheres, que pelas suas ideias e comportamentos foram presos, acusadas e, no limite, mortas nas fogueiras por condenação do Santo Ofício.
 Nascia, deste modo, no coração do Renascimento, a Inquisição, que marcou de forma vincada a História de Portugal e do seu império durante 285 anos. A sua influência continua-se a sentir ainda hoje, em certas dimensões da vida institucional e até nos costumes e modos de ser e pensar.
Numa pesquisa rigorosa e baseada em consulta exaustiva de arquivos e documentação, Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva apresentam a primeira história da Inquisição portuguesa, desde a sua fundação à extinção, em 1821.

José Pedro Paiva é professor na Universidade de Coimbra, investigador no Centro de História da Sociedade e da Cultura e no Centro de Estudos de História Religiosa. A sua área de pesquisa central é a história religiosa e cultural em Portugal, séculos XVI-XVIII. Entre outros livros é autor de Bruxaria e superstição num país sem "caça às bruxas"(Lisboa, 1997), Os bispos de Portugal e do império (1495-1777) (Coimbra, 2006), Baluartes da fé e da disciplina.

Giuseppe Marcocci é professor de História Moderna na Università degli Studi della Tuscia, em Viterbo (Itália) e coordenador do projeto de investigação Beyond the Holly War, na Scuola Normale Superior, em Pisa (Itália) . A sua área de pesquisa central é a história política, cultural e religiosa do mundo ibérico, com especial atenção sobre o caso português entre os séculos XV e XVIII. Entre outros estudos, é autor de A consciência de um império: Portugal e o seu mundo, sécs. XV a XVII (Coimbra 2012).

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Todas as Palavras de Amor (Ana Casaca)

Depois de uma semana de paixão em Londres, Alice separa-se do seu apaixonado para prosseguir com a sua viagem de descoberta pessoal. Os dias foram intensos, despertando um amor que ela quer preservar. Escreve, por isso, para a morada que António lhe deu, e as suas cartas estão cheias de afecto e alegria. Mas o António que vive no lugar onde chegam as cartas não é o que ela conheceu em Londres, mas antes um padre cheio de dúvidas sobre si mesmo e que se sente confortado por aquelas palavras dirigidas a outro. As cartas sucedem-se e António retira conforto da sua leitura. Mas quando assuntos de família levam Alice a regressar, António decide que é necessário contar a verdade, mesmo que isso implique o fim do seu único conforto.
Com o amor como tema e uma história que se define essencialmente pela relação entre os protagonistas, não é propriamente surpreendente o facto de serem as emoções o ponto forte deste livro. A escrita tem um interessante toque de poesia, particularmente cativante tendo em conta o facto de grande parte da história surgir através das cartas, e o enredo é também cativante, quer pela forma como a relação entre os protagonistas evolui, quer pelas sombras dos seus respectivos passados. Mas é no afecto e na forma como este se expressa que está o que realmente marca neste livro, já que, com todos os defeitos que as personagens possam ter (e têm alguns), as suas naturezas parecem completar-se e as dúvidas e dificuldades que atravessam tornam fácil sentir alguma empatia para com eles.
O sentimento essencial desta história é o amor e é fácil reconhecê-lo, tanto nas acções ao longo do enredo, como nas palavras das cartas. Claro que há nestas alguns exageros - mas já dizia o poeta que todas as cartas de amor são ridículas - , mas é particularmente interessante ver como essas palavras se reflectem em acções, principalmente para os protagonistas, mas também para o casal amigo que, apesar da presença discreta, tem também uma história cativante.
Fica a sensação de que alguns aspectos da história poderiam ter sido mais desenvolvidos, principalmente no que diz respeito às relações familiares de Alice e ao seu passado antes da viagem. Não são elementos essenciais ao enredo, que funciona bastante bem tal como é, mas poderiam torná-lo um pouco mais complexo. O mesmo acontece com a história familiar que fez de António um padre sem vocação. As bases desse passado são revelados, mas haveria, talvez, mais para contar.
Leve e agradável, com uma história cativante e alguns momentos comoventes, este é, pois, um livro que, não sendo particularmente surpreendente, apresenta, ainda assim, uma boa história, com personagens interessantes e um final intenso e enternecedor. Uma boa leitura, portanto.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Marca do Herege (Susana Fortes)

Um cadáver encontrado na catedral de Santiago de Compostela e o inesperado desaparecimento de um códice antigo. À primeira vista, nada liga os dois acontecimentos. Mas basta a identidade da morta e algumas descobertas sobre os seus interesses e relações para que o mistério se adense. Patricia Pálmer teria ligações a um pequeno grupo ecológico e um interesse particular por mitos e crenças, com particular destaque para as doutrinas de Prisciliano. Ora este é precisamente o autor do livro desaparecido e, aparentemente, Patricia dedicou bastante tempo a estudar a sua história. As ligações começam a tornar-se evidentes. E, enquanto o comissário Lois Castro segue com a sua investigação, há dois jornalistas - um veterano e uma estagiária - que sentem também interesse pelo caso. Será o conjunto das conclusões de todos suficiente para desvendar o mistério?
Parte do que torna este livro cativante está na forma como a autora consegue conjugar uma série de temas bastante diferentes, apresentando informação relevante sobre todos sem nunca perder de vista a linha essencial do enredo. A base do mistério é a morte de Patricia e é a partir desse ponto que irão surgir todas as ramificações, quer as que têm uma relação directa com o que lhe aconteceu, quer com outras pistas que, partindo de Patricia, se expandem para o desvendar de outros crimes e de outros culpados. 
Esta conjugação de diferentes temáticas implica uma boa dose de contextualização, o que leva a que os acontecimentos evoluam a um ritmo bastante pausado. Ainda assim, muita da informação é interessante - sendo de destacar as questões relativas à heresia - e o mistério está sempre presente, o que faz com que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, o enredo se mantenha envolvente e intrigante.
A nível de personagens, há um desenvolvimento bastante gradual dos protagonistas, particularmente evidente no passado misterioso - e revelado em pequenas e ocasionais doses de informações - da jovem jornalista. Este mistério e a forma como moldou a sua personalidade são parte do que a torna cativante, já que o seu temperamento peculiar define também as suas relações (ou falta de) com os colegas. Há um fantasma na vida de Laura Márquez e esse fantasma que a torna fechada, torna também mais interessante a sua relação com Villamil. Ainda que o desenvolvimento desta relação seja relativamente discreto, ficando a impressão de que mais poderia ser explorado sobre o assunto.
Envolvente e intrigante, apesar de um ritmo relativamente pausado, este é um livro que, partindo de vários temas interessantes, constrói para as suas personagens um mistério com alguns momentos inesperados, uma evolução cativante e um final que, respondendo a tudo aquilo que é esperado, deixa, ainda assim, algumas possibilidades interessantes em aberto. Uma boa leitura, em suma. Gostei. 

Novidade Porto Editora


Margaret e Patrick estão casados há apenas alguns meses quando decidem partir para o Quénia, convencidos de que irão viver uma grande aventura em África. No entanto, Margaret depressa se apercebe de que não conhece os costumes complexos do seu novo lar e tão pouco o homem que tem ao seu lado.
Quando, certo dia, um casal inglês os convida para escalar o monte Quénia, eles aceitam, entusiasmados, o desafio. Porém, durante a árdua subida, ocorre um terrível acidente e, no rescaldo da tragédia, Margaret ver-se-á enredada numa teia de dúvidas sobre o que se passou realmente na montanha. Estes acontecimentos, que a irão afectar profundamente, terão consequências indeléveis no seu casamento.

Natural do Massachusetts, onde ainda hoje reside, Anita Shreve formou-se na Tufts University, foi professora e acabou por enveredar pelo jornalismo após uma das suas histórias ter ganho o O. Henry Prize, em 1975, escrevendo então artigos para revistas como a  Quest, Us e Newsweek.  Mais tarde, publicou dois livros de não ficção a partir de artigos publicados na The New York Times Magazine.
Em 1989, abandonou o jornalismo e dedicou-se apenas à literatura, alcançando um grande sucesso internacional – as suas obras venderam já cerca de 8 milhões de exemplares em todo o mundo.  Em 1998, recebeu o PEN/L.L. Winship Award e o The New England Book Awardpara ficção.
No catálogo da Porto Editora figuram já os seus romances Testemunho e A Ilha dos Desencontros.

Novidade Quetzal


A vida quotidiana em tempos de arbitrariedade e atropelos, com os seus medos e valentias, as suas cedências e heroísmos, abre-se diante do leitor num relato cativante e pleno de humor.
Durante a ditadura uruguaia, o negro Johnny Sosa, um humilde cantor de blues da cidade de Mosquitos, revela um acto de coragem inimaginável para os que julgam conhecê-lo  – e  que acabará por converter-se num belíssimo canto à dignidade humana.
Mario Delgado Aparaín oferece-nos, numa época de desconcerto, algo mais do que um romance ameno e aprazível: põe-nos em contacto com a condição do homem, complexa e imprevisível.

Mario Delgado Aparaín nasceu em Florida, no Uruguai, em 1949. Escritor, professor e jornalista, é autor de três livros de contos, Las llaves de Francia (1981),  Causa de buena muerte (1982) e  La leyenda del Fabulosísimo Cappi y otras historias (Alfaguara, 1999); e de cinco romances, Estado de gracia (1983), El día del cometa (1985), La balada de Johnny Sosa (1987), Por mandato de madre (Alfaguara, 1996) e Alívio de luto (Alfaguara, 1998). O livro  A Balada de Johnny Sosa  ganhou o Prémio de Literatura de Montevideu em 1988. Foi publicado em Espanha e traduzido no Brasil, Holanda, França, Itália, Alemanha, Portugal e Grécia. 

domingo, 27 de janeiro de 2013

Amália - O Romance da sua Vida (Sónia Louro)

Foi ao entrar pela primeira vez no Retiro da Severa que Amália descobriu que podia construir uma vida cantando. Gostava de cantar  e queria fazê-lo, mesmo apesar do medo que sempre a acompanhou, mas nunca imaginou poder alcançar a fama e a devoção que conquistaria o longo da sua vida. Este romance é a história da sua vida, enquanto fadista e enquanto mulher, apresentando os grandes acontecimentos do seu percurso, mas também os traços mais simples da sua natureza. Da mulher que não gostava de más palavras, que não conseguia ser feliz, mas tentava ser "bem disposta", que tinha sempre o medo por companhia antes de subir ao palco. Que tinha uma voz capaz de conquistar o mundo.
Sendo este romance a história da vida de Amália, é, naturalmente, nela que toda a história se concentra. Desde os primeiros passos na direcção do sucesso e até aos últimos dias, a autora percorre tanto os episódios essenciais da sua vida pública como algumas recordações mais pessoais. Tudo tendo por base uma boa pesquisa - como o comprovam as muitas referências apresentadas ao longo do livro. Há, portanto, toda uma vastidão de episódios marcantes, digam eles respeito a um grande sucesso, ao início de uma relação amorosa ou até a um momento divertido na companhia de amigos, e todos este episódios contribuem para transmitir ao leitor uma imagem muito completa e muito humana da fadista. É fácil compreender Amália, nos seus sonhos, mas também nos inevitáveis medos.
A escrita é envolvente, fluída e com um toque de poesia nos momentos certos. A narração dos acontecimentos surge de forma organizada, mas nunca demasiado linear, permitindo reconhecer os factos pelo que são, sem perder a envolvência que se espera do que é, afinal, um romance. Quanto aos intervenientes no enredo, sendo eles reais, não surpreende tanto a sua caracterização, mas mais a forma como é fácil reconhecer a força das relações. A história centra-se em Amália e, por isso, há personagens que acabam por desaparecer com o passar do tempo. Fica, principalmente para as figuras mais relevantes, a vontade de saber mais da sua vida, antes e depois (se o houve) de Amália. Ainda assim, no tempo que partilham, é fácil reconhecer os sentimentos e os sonhos em comum, e isso evoca uma muito agradável sensação de familiaridade ante o que está a ser narrado.
Trata-se, pois, de um romance envolvente, bem escrito e com um retrato muito completo da sua protagonista, tanto nos grandes episódios, como nas situações da vida privada e nos traços de personalidade que marcaram a sua forma de estar perante a vida. Um bom livro para conhecer a vida de Amália, em suma, e uma leitura cativante, das primeiras às últimas páginas.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Metamorfose à Beira do Céu (Mathias Malzieu)

O sonho de Tom Cloudman sempre foi voar. Mas o resultado das suas tentativas, desde a infância e através do crescimento, foi essencialmente uma série de hematomas, ossos partidos e um corpo precocemente envelhecido. Viajando no seu caixão com rodas, Tom levou alegria a muitos, com as suas desastradas actuações. Mas agora, o tempo e as quedas cobraram o seu preço, e há uma doença incurável que, qual monstro, cresce e toma posse do seu corpo. O sonho parece destinado a acabar em breve... Mas quando, num dos seus passeios nocturnos pelo hospital, Tom descobre o ninho da mulher-pássaro, há uma alternativa que lhe é oferecida. A sua vida pode ser salva, se ele estiver disposto a aceitar as consequências de uma metamorfose. Mas poderá Tom renunciar à humanidade?
Breve, mágico e comovente, este é um livro em que a melancolia e a ternura se confundem. Melancolia, por uma história que, desde o início, é a de um sonho inevitavelmente falhado, e que evolui no sentido de um fim que é, inevitavelmente doloroso. Ternura, pela forma como esse sonho difícil leva ânimo à vida das pessoas que os vêem, desde os que assistem às suas actuações ao pequeno Victor, que observa a redução do seu herói a uma dolorosa fragilidade. Sem esquecer, é claro, a relação entre Tom e a mulher-pássaro, também ela terna e comovente, nas muitas possibilidades e improbabilidades que conjuga.
Esta é uma história onde o impossível se torna natural. A existência da mulher-pássaro e o segredo do seu ninho surgem aos olhos de Tom com a mesma naturalidade com que este construía os seus sonhos impossíveis. O mesmo acontece com a metamorfose, que, ao mesmo tempo que leva muitos dos elementos do hospital a questionar a presença de Tom, faz com que outros o aceitem, apesar das mudanças e da sua estranheza geral. A história é, toda ela, peculiar, cheia de improváveis, de magias inexplicáveis, mas o mais fascinante é a forma como o autor torna fácil esquecer o impossível e acreditar, simplesmente, na metamorfose de Tom. Na sua mudança.
Há muito de marcante nesta história, mesmo considerando apenas o enredo por si só. Mas é impossível não ver a forma como o improvável percurso de Tom serve de símbolo para os inevitáveis da realidade. Desde os sonhos inocentes que, com o crescimento, revelam a sua impossibilidade, à passagem do tempo e à chegada da doença e da morte, com todas as inevitáveis perdas associadas - para quem parte e para os que ficam - a história de Tom, com toda a estranheza e toda a sua magia, reflecte aspectos incontornáveis da realidade. É também isso que a torna tão comovente, já que o que acontece com Tom - o crescimento, a fragilidade, as inevitáveis mudanças - ecoa, com toda a intensidade, nos factos do mundo real. E a ternura com que esta história é construída, mesclando medidas iguais de tristeza e esperança, reforça esses paralelos, criando, em simultâneo, uma história memorável e uma forte base para reflexão.
Esta é, pois, uma história que, apesar de muito breve e, aparentemente, bastante simples, revela complexidades insuspeitas na forma como conjuga a magia de um cenário imaginário com os elementos inevitáveis da realidade. Belo e enternecedor, mesmo nos momentos mais tristes, este é um livro que não posso deixar de recomendar.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Cinzas da Meia-Noite (Lara Adrian)

Andreas Reichen perdeu tudo. O ataque ao seu Refúgio causou a morte de todos os que lhe eram próximos e, agora, só lhe resta a vingança. Tudo fará para garantir que os responsáveis pelo ataque encontram a morte às suas mãos e não terá descanso até que Wilhelm Roth, primeiro entre os culpados, tenha deixado de viver. Mas a fúria e o desejo de vingança despertaram também uma força que Reichen levou toda a vida a controlar e o fogo que vive no seu interior torna-se mais forte e incontrolável de cada vez que é libertado. A sua vingança contra Roth pode bem ser o fim de Reichen. Mas tudo muda ao encontrar Claire, a companheira de Roth e a mulher que sempre amou. Agora, além de lutar contra o inimigo e contra a força do seu poder, Andreas tem de contrariar um amor que lhe parece ser impossível. Mesmo sabendo que a presença de Claire atenua uma parte do seu tormento...
Presente já em vários momentos importantes dos livros anteriores (um dos quais é mesmo o ataque ao seu Refúgio), Andreas é já uma personagem conhecida para quem acompanha a série. É fácil, por isso, sentir alguma empatia para com a sua posição e reconhecer as suas características essenciais - e o que mudou depois da perda. Sempre foi um aliado precioso para a Ordem e, por isso, sempre teve um papel relevante a desempenhar, mas é neste livro que o melhor da personalidade de Andreas é revelado. O mesmo acontece com a sua história. A situação passou do necessário combate a Dragos e seu aliados a uma batalha bem mais pessoal, por vingança e por justiça. E esse é um conflito que realça as mais cativantes características de Reichen: a determinação, a necessidade de agir, um certo instinto protector, a vontade de lutar até ao fim - e independentemente das consequências - por aquilo que tem de ser feito. Todas estas características, aliadas a um passado cheio de sombras e a uma rivalidade mais antiga que os motivos para a vingança, fazem de Reichen, com o seu lado sombrio em equilíbrio com as características redentoras, um protagonista fascinante.
Também Claire tem muito de cativante. Enquanto companheira de Roth, encontra-se, desde logo, numa posição delicada e, à medida que o enredo evolui, as suas forças e vulnerabilidades acabam por se revelar determinantes para o rumo dos acontecimentos. Além disso, a sua antiga ligação a Andreas torna-a na companheira perfeita para o seu caminho de dificuldades. No fundo, Claire e Andreas complementam-se em todos os aspectos, quer a nível de personalidades, quer nas decisões que tomam relativamente aos problemas.
Um dos grandes pontos fortes deste livro é, portanto, a relação entre os protagonistas. Mas não é o único, até porque a parte romântica do enredo se enquadra numa história maior, onde há muito a acontecer a nível de acção, afectando tanto a busca pessoal de Andreas por vingança como os próprios planos da Ordem no combate a Dragos. É inevitável, pois, que muitos dos protagonistas dos livros anteriores acabem por aparecer, o que cria uma perspectiva mais ampla para o conflito e, ao mesmo tempo, explora outro tipo de afectos e relações. Amizade e lealdade, mesmo nos momentos mais dúbios, transparecem das relações de Andreas com a Ordem e também aí surgem vários dos momentos mais intensos, a nível emocional.
De ritmo viciante e com uma escrita envolvente, este é, pois, um livro que cativa tanto pela relação entre o casal protagonista como pela intensidade da acção e a ligação a outras personagens que não os elementos essenciais do romance. O resultado é uma história maior que a do simples romance entre o casal e que, por isso, se torna mais intensa, quer emocionalmente, quer a nível de evolução do contexto global. Um óptimo acréscimo à série, portanto, e um livro muito bom.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

À Luz da Meia-Noite (Sherrilyn Kenyon)

Aidan era um actor famoso, aclamado pelos fãs e de uma generosidade a toda a prova, mas a traição dos que lhe eram mais próximos destruiu a sua confiança. Agora, Aidan refugia-se no isolamento para não ter de voltar a contactar com o mundo exterior, a confiar para voltar a ser traído. Mas a traição do irmão está prestes a atingir um novo nível. É que Donnie acaba de invocar o deus da dor, aprisionado por uma maldição, para acabar com a vida de Aidan. E a única pessoa capaz de o ajudar é Leta, a deusa responsável pela maldição que paralisou o deus da dor durante séculos. Também ela marcada por perdas e sofrimentos passados, Leta está disposta a ajudar Aidan, custe o que custar. Mas como pode ela conquistar a confiança de alguém tão completamente desiludido que fechou as portas a qualquer possibilidade de acreditar?
Sendo um livro bastante mais breve que os anteriores da série, é expectável que as coisas aconteçam de forma bastante mais rápida que nos anteriores. O que, de facto, acontece. A história de Aidan e Leta decorre em poucos dias, pelo que há, comparativamente aos volumes anteriores, um menor desenvolvimento à nível da relação e um romance que se desenrola de forma um pouco mais brusca. Há, também, menos desenvolvimento a nível da parte sensual do enredo, o que, tendo em conta o rumo dos acontecimentos, acaba por resultar bastante bem.
A história centra-se, pois, por um lado, no percurso de conquista da confiança de Aidan, através dos sofrimentos passados dos dois protagonistas, e, por outro, no inevitável confronto com Donnie e com o deus que este invocou. Sem contar, claro, com os demónios interiores que levaram Aidan a fechar-se na ira e na suspeita. Mais uma vez, a relativa brevidade influencia a construção do enredo, levando a que não haja grandes momentos descritivos, sendo que grande parte da caracterização das personagens está nas suas memórias e acções.
E são, realmente, as personagens o grande ponto forte deste livro. A história de Aidan, enquanto alguém generoso por natureza, mas vítima de uma inveja sem limites, desperta, desde logo, alguma empatia, e o mesmo acontece com o passado de Leta. Além disso, os seus sofrimentos comuns fazem com que a sua relação cresça de uma forma mais natural (ainda que um pouco apressada), à medida que a desconfiança vai dando lugar à empatia e, depois, a algo mais. Esta é, também, a base para um interessante equilíbrio entre alguns momentos divertidos e um final bastante emotivo, o que faz com que a história consiga ser, ao mesmo tempo, leve e comovente.
Centrado essencialmente na história e na relação entre os protagonistas, este é um livro bastante mais simples que os outros volumes da série. Ainda assim, e mesmo sem grandes ligações aos acontecimentos anteriores, a história não deixa de ser cativante, com o seu equilíbrio entre acção e romance - e um toque de humor. Uma boa história, portanto, com personagens fortes e um ritmo viciante. Muito bom.

Passatempo Na Cama dos Reis


O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Planeta, tem para oferecer um exemplar do livro Na Cama dos Reis, de Juliette Benzoni. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Em que país nasceu Juliette Benzoni?
2. Que outros livros desta autora foram publicados pela Planeta?


Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 31 de Janeiro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Adrenalina (Jeff Abbott)

Casado com a mulher que ama, a poucos meses de ser pai e com um futuro profissional promissor, Sam Capra tem tudo o que podia desejar. Mas basta um momento e tudo muda. Durante uma reunião com os seus colegas da CIA, Lucy telefona-lhe e convence-o a sair. Poucos momentos depois, uma bomba explode, matando todos os que estavam no edifício. Por momentos, Sam vê Lucy, mas esta desaparece no caos e Sam não a consegue seguir. Fica para trás, como único sobrevivente do ataque. E inevitável suspeito de traição. Ninguém parece disposto a acreditar na sua inocência, mas Sam não quebra e a verdade é que, fechado numa prisão, nunca fará com que - aliados ou inimigos - os responsáveis pelo atentado se revelem. Sam é, pois, libertado... sob algumas condições. Mas, certo de que Lucy tem de ser inocente e que precisa de a encontrar, ficar quieto não é uma escolha tolerável. Sam tem de encontrar os responsáveis pelo que aconteceu, tanto para provar a sua inocência, como para chegar à mulher e ao filho.
Envolvente desde o início, intenso nos seus melhores momentos e com um protagonista carismático, mas falível, este é um livro que tem o seu melhor no equilíbrio entre a acção intensa do enredo e os momentos emocionais que despertam empatia. Esta surge, aliás, desde o início, quer por a história ser contada, maioritariamente, do ponto de vista do protagonista, quer pelos valores e necessidades que definem os seus actos. Sam Capra é uma personagem cativante, já que as suas motivações são fáceis de compreender. Mas as suas características marcantes não se resumem à determinação em lutar até ao fim para encontrar Lucy e o seu filho. Tudo na sua história reflecte os seus valores: a escolha de uma carreira na CIA, motivada pelo que aconteceu ao irmão; a forma como pondera as suas acções, questionando os meios que usa para atingir os seus fins; até a reacção que demonstra ante as circunstâncias mais negras. Tudo em Sam revela a sua natureza, e isto aplica-se tanto às forças como às vulnerabilidades. Em pleno ambiente de acção e corrida contra o tempo, a falibilidade dos planos de Sam torna a história mais intensa e mais credível.
Também a forma como o enredo é construído contribui para tornar a leitura viciante. Capítulos curtos, escrita directa e um enredo cheio de acção tornam a leitura cativante, desde as primeiras páginas, e a evolução da história, com todas as reviravoltas inesperadas e o equilíbrio entre acção e emoção a manter viva a vontade de ler mais. Além disso, apesar da narração na primeira pessoa, há outras personagens interessantes e figuras como August e a misteriosa Mila cativam tanto pela personalidade como pelo papel que têm a desempenhar no enredo e que insinua já algumas das interessantes possibilidades  que serão exploradas em O Último Minuto, segundo volume desta série.
Com um protagonista carismático e vários momentos intensos, Adrenalina abre da melhor forma uma série que, quer pelas personagens quer pela evolução do enredo, tem ainda muito potencial para explorar. Empolgante e surpreendente, este é um livro que vale a pena ler. Muito bom.

Novidades Planeta


Muito já se publicou sobre o casamento. Mas pouco, ou quase nada, sobre os momentos íntimos no segredo das alcovas depois das cerimónias oficiais.  
Juliette Benzoni, historiadora e romancista, soube encontrar o fio condutor dos escritos e memórias de várias personagens da História, desde noites de núpcias de deuses, de reis a príncipes.  
Noites grandiosas de Alexandre, o Grande, noites resignadas de Luís XVI, noites reticentes, noites de lágrimas, noites estranhas, noites entusiastas e desesperadas.  
Noites dramáticas, da tenda de Átila, o Huno  ao quarto de Mayerling, que terminam em amor ou ódio instilados no sangue. 

Quem leu As Cinquenta Sombras de Grey, já se perguntou como seria fazer jogos de poder sensuais no quarto… mas não sabe por onde começar. Este é o livro que vai orientar o seu prazer. 
Uma viagem sensual, a preto e branco, que pormenoriza cinquenta noites extraordinariamente sensuais e ousadas. Apimentadas com cinquenta ilustrações atrevidas e uma mão-cheia de conselhos práticos para qualquer casal poder começar a tentar… hoje à noite. 
O Kamasutra de Grey está escrito em forma de diário, com convincentes histórias eróticas, sendo as cinquenta posições descritas extraídas da trilogia original.

Novidade Esfera dos Livros


Quando a sua amiga D. Teresa lhe contou, entre lágrimas, o terrível segredo que guardava há anos no peito, D. Mafalda de Saboia sabia que morreria sem nunca poder contar a verdade sobre o seu marido Afonso Henriques. A legitimidade e consolidação do reino de Portugal, perante a Santa Sé e o mundo, razões pela qual fora escolhida para partilhar o destino com o primeiro rei deste reino distante, dependia de si e do seu silêncio. Mafalda de Mouriana, filha do conde Amadeu III de Saboia, chega a Portugal, em 1146, aos 20 anos para casar com Afonso I, que aos 37 anos, ganhara uma áurea de conquistador, graças às duras batalhas que ia vencendo contra os infiéis. Mafalda não encontrou em Portugal a felicidade desejada. Procura na ajuda aos mais necessitados, o amor que não encontra nos braços violentos de Afonso, com quem mantém uma relação distante e conflituosa. Entre guerras e conquistas, o marido preferia cair nos braços da amante Châmoa Gomes. De si, sua legítima esposa, procurava apenas a garantia da continuidade da dinastia que iniciara. Tarefa que Mafalda cumpriu com honra até à data da sua morte, em 1157. Foi mãe de sete filhos e sentou no trono Sancho I. Portugal era agora um reino independente reconhecido pela Santa Sé. Morreu sem nunca revelar o segredo que poderia ter mudado a história do país para sempre…
                                                                                         
Diana, duquesa de Cadaval, nasceu em Genebra, na Suíça, e vive actualmente em Portugal, entre o Estoril e Évora. Formou-se em Comunicação Internacional na Universidade Americana de Paris e trabalhou na leiloeira Christie's, em Londres. Tem a seu cargo a actividade cultural do Palácio Cadaval, em Évora, o berço da família ducal há mais de seis séculos. Com o marido, o príncipe Charles-Philippe d'Orléans, duque d'Anjou, Diana de Cadaval tem participado em missões humanitárias na Etiópia, Camboja, Sérvia e Egipto. Publicou com grande sucesso Eu, Maria Pia, em 4ª edição, e Maria Francisca de Saboia, em 2.ª edição, com A Esfera dos Livros.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Porque És Minha (Beth Kery)

Francesca Arno é uma jovem pintora a passar por uma fase de dificuldades económicas. Mas a sua sorte parece, finalmente, mudar, ao ser-lhe atribuída a comissão para o quadro que deverá ocupar o átrio do edifício da Noble Industries. A comissão trará também outras mudanças e basta uma troca de olhares com o seu benfeitor para que ambos percebam que é inegável a atracção entre ambos. O problema é que Ian Noble não é propriamente um homem fácil de conhecer. Dominador, maníaco do controlo e dono de um temperamento complicado, não é, como ele próprio admite, bom para as mulheres. E Francesca é inesperadamente inocente. Dificilmente poderiam ser mais diferentes, mas há algo entre Ian e Francesca que fala mais alto que a sensatez e que os levará a embarcar numa aventura que, iniciada pelo prazer e pela experiência, talvez se venha a transformar em algo mais.
Não é surpresa nenhuma, sendo este um romance erótico, que grande parte do enredo se centre na relação entre os protagonistas, e, dentro desta, na interacção sexual entre ambos. Também não é surpresa, tendo em conta as características essenciais de Ian, que esta relação seja de domínio e submissão. Assim, é bastante fácil imaginar, à partida, o rumo que esta história irá seguir. Não é difícil prever os acontecimentos essenciais.
Mas o facto é que esta previsibilidade não retira envolvência à história. E por várias razões. A primeira está no estilo de escrita, que, não sendo nem elaborado nem particularmente complexo, consegue, ainda assim, ser bastante agradável e cativante. As restantes prendem-se com a construção das personagens e da forma como as suas personalidades e passado moldam os contornos da sua relação. Tanto Ian como Francesca têm uma história passada, que definiu as suas forças e vulnerabilidades e que os torna particularmente receptivos à relação que virão a estabelecer. Além disso, e particularmente no que diz respeito a Francesca, o seu papel na relação sexual não se estende a uma submissão fora desse contexto. É, aliás, particularmente agradável ver as forças de Francesca - a força de vontade, uma certa teimosia, a determinação em fazer as suas próprias escolhas - em oposição ao seu papel de submissa.
Há, portanto, um passado e uma história a decorrer para lá das - longa e pormenorizadamente descritas (e, por vezes, de forma um pouco repetitiva) - interacções sexuais entre os protagonistas. E é nessa história que se encontra parte do que torna cativante o restante do enredo. A personalidade misteriosa de Ian implica alguns segredos guardados e a sua necessidade de controlo tem também origem no passado. A revelação desses segredos torna mais fácil de compreender o seu lado sombrio, ao mesmo tempo que reforça a empatia da figura misteriosa que, desde o início, se insinua nos seus momentos mais fechados. Por outro lado, também Francesca tem um passado complicado, mas este é desenvolvido de forma muito mais breve, deixando a impressão de que muito mais haveria para dizer sobre o assunto.
Envolvente e de leitura agradável, este é, assim, um livro que, não sendo particularmente surpreendente, cativa pela construção de uma história interessante para os seus protagonistas, mostrando-os não apenas como meros intervenientes de uma relação física, mas também como figuras com personalidades e passados que condicionam as suas escolhas. Uma boa leitura, portanto. Gostei.

Novidade Porto Editora


A história comovente de um homem arrastado para o passado por uma doença que o despoja do presente.
Aos sessenta e cinco anos, Konrad Lang ainda vive às custas da abastada família Koch. Durante anos, foi um parasita tolerável, inicialmente enquanto companheiro de brincadeiras de Thomas Koch, o herdeiro da fortuna da família, mais tarde enquanto zelador da mansão de férias em Corfu, embora sempre sujeito aos caprichos da família. Certa noite, porém, Konrad pega acidentalmente fogo  à mansão, reduzindo-a a cinzas. A princípio, atribui-se a causa desse incidente ao seu alcoolismo, mas os esquecimentos de Konrad sucedem-se.
São os primeiros sintomas de um mal misterioso, que trará consigo consequências perturbadoras. No entanto, à medida que a memória recente de Konrad se vai esvaindo, as recordações que muitos esperavam estar soterradas vão ressurgindo pouco a pouco… A doença de Alzheimer instala-se, ameaçando pôr a descoberto segredos guardados a sete chaves.

Martin Suter, nascido em Zurique em 1948, é escritor e argumentista. Até 1991 trabalhou em publicidade, como director criativo, altura em que decidiu dedicar-se exclusivamente à escrita. Vive com a família entre a Espanha e a Guatemala. Os seus romances encontram-se traduzidos em mais de trinta países, estreando-se agora em Portugal. Cinzas do Passado (Small World) foi adaptado ao cinema por Bruno Chiche e protagonizado por Gérard Depardieu.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Casa de São Cláudio (Paulo Leme)

Cenário de conversas familiares e de tragédias causadas, talvez, por distracção, a Casa de São Cláudio é também o refúgio de Saulo e o foco dos seus planos e projectos. Através do tempo, permanece, apesar das dificuldades, graças aos esforços dos que nela vivem e trabalham. Mas é também um pretexto para recordações e explicações - de planos e de processos, tanto como de crenças e de ideias. Esta história é, pois, mais a de um lugar que a de um homem. Desse, apenas partes são dadas a conhecer.
Os pontos mais positivos deste livro resumem-se em dois aspectos: uma ideia base com algum potencial e a exposição de muita informação interessante sobre temas tão diferentes como a produção agrícola e a astronomia. A ideia de caracterizar a vida rural através do quotidiano de uma quinta abre muitas possibilidades a explorar, tanto a nível das rotinas e das dificuldades da produção como no que respeita ao contexto político e social ao longo do tempo, o que criaria, desde logo, um cenário interessante para a história dos protagonistas. Além disso, a tal informação sobre métodos e complicações - e até mesmo as conversas sobre assuntos que nada parecem ter a ver - poderiam acrescentar ainda outros pontos de interesse ao rumo da narrativa.
Infelizmente, a concretização fica aquém das expectativas. Em termos formais, não há nada a apontar, no que diz respeito à escrita, mas a narração nunca chega a cativar. Primeiro, devido às longas exposições de informação, primeiro através de diálogos bastante forçados, depois nas longas divagações das personagens. Depois, devido à dispersão com que as ideias são apresentadas. Não há uma linha temporal definida e as personagens parecem divagar entre diferentes épocas, sem uma razão que explique essas mudanças temporais. Além disso, ainda que Saulo pareça ser o protagonista, nem ele tem uma história completamente definida. Os projectos que surgem no início parecem desaparecer sem que o seu avanço seja apresentado ao leitor e o mesmo acontece com as experiências do seu passado. Além disso, parte da informação desenvolvida não tem assim tanta relevância para a possível história do suposto protagonista, servindo apenas - e por mais interessante que possa ser - para gerar mais confusão.
A impressão que fica deste livro é, portanto, a de uma boa ideia que podia ter sido muito mais, mas que, entre as longas dissertações sobre os mais diversos temas, a divagação entre diferentes épocas e diferentes personagens e o pouco desenvolvimento das ditas personagens e dos acontecimentos que as afectam, acaba por se dispersar por demasiados aspectos. A história do protagonista, essa, quase se perde entre tudo isto. E é isso o que realmente falha neste livro.

Novidade Esfera dos Livros


Com quase 900 anos de existência, Portugal detém um passado rico em História… E em muitas histórias. Aqueles episódios caricatos, rocambolescos, novelescos, escandalosos que não nos são contados nos bancos da escola, nem nos livros de História tradicionais mais preocupados com a conjuntura, ciclos económicos ou os grandes acontecimentos.
Vejamos…D. Mécia tornou-se a primeira rainha raptada da História de Portugal, também tivemos reis enfeitiçados pelo amor como D. Pedro IV, o mesmo que batia na mulher D. Leopoldina que terá morrido graças aos maus-tratos do marido, reis bígamos, impotentes, demasiado castos ou homossexuais.
 Milagres inventados à pressão, para bem da nacionalidade. Confrontos familiares que deram em morte. Assassínios descarados como o de D. Diogo, pelas mãos do seu cunhado, o rei D. João II.
Atentados mal-sucedidos, como o que foi vítima D. João IV, ou mortes misteriosas que criaram comoção na corte da época, como a do marquês de Loulé. Escândalos financeiros, como a criação da Patriarcal de Lisboa, que provocou um rombo nos cofres do Estado. Construções megalómanas, de custo elevado para o erário público, ou os gastos de rainhas em jóias e roupa…

Ricardo A. Varela Raimundo nasceu em Lisboa, em 1981. Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa. Em 2006 tornou-se mestre em História Moderna pela Faculdade de Letras de Lisboa. Desde 2007 é doutorando em História Moderna na Faculdade de Letras de Lisboa, com bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Colabora no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa. Tem realizado diversos trabalhos sobre fontes inéditas depositadas no Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo e publicados em algumas revistas da especialidade. Colaborou no Dicionário Histórico das Ordens e Instituições afins em Portugal, publicado em 2010. Tem participado em diversos congressos, colóquios e encontros de História.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Lua de Sangue (Nora Roberts)

Quando tinha oito anos, Tory Bodeen e a sua única amiga marcaram uma noite de aventura no pântano. Mas tudo acabou em tragédia. Mais uma vez, Tory foi espancada pelo pai devido aos seus dons invulgares e, por isso, ficou trancada no quarto. Hope foi até ao local combinado, mas o que encontrou foi o atacante que lhe pôs fim à vida. Na sua mente, Tory viu tudo e, no dia seguinte, contou. Mas ninguém quis acreditar nos seus dons de clarividência e todos preferiram julgar que ela estivera no local e fugira, assustada. Foi o início do caminho que afastou Tory de Progress. Mas agora, mais adulta e habituada à desilusão, Tory julga ser tempo de voltar ao lugar onde cresceu, construir o seu lugar e, se possível, descobrir o que aconteceu à amiga. E, se é certo que nem todos se sentem felizes com o seu regresso, Tory não está disposta a deixar-se afugentar. Nem mesmo sabendo que o assassino de Hope continua por perto.
O mais interessante deste livro - como em vários outros da autora - está na capacidade desta de construir uma história em que, ainda que o romance seja parte essencial do enredo, há mais de relevante a acontecer para lá da relação entre os protagonistas. A história de Cade e de Tory, e de como a relação entre ambos evolui, partindo da relutância inicial (principalmente da parte de Tory) e crescendo no sentido de uma maior proximidade, apesar de todos os problemas e da oposição de alguns elementos da família de Cade. Há bastante romance, é claro, mas este surge enquadrado numa história maior, da qual o mistério da morte de Hope é apenas uma das grandes questões.
Não há grandes elaborações a nível de escrita, mas a história é contada com fluidez e envolvência. Há, também, um interessante contraste entre os momentos leves e divertidos e o lado mais sombrio associado tanto ao assassino de Hope como ao passado de Tory. Passado que evoca também algumas questões importantes, principalmente no que respeita ao tema da violência doméstica, ainda que não seja este o tema principal. Além disso, há a capacidade de Tory de ler sentimentos e acontecimentos, dom que, além de acrescentar algo de problemático às suas relações, torna mais interessante o seu percurso, quer por definir a sua tentativa de se fechar a qualquer dependência dos outros, quer pelos sentimentos contraditórios que o seu conhecimento lhe desperta.
No que respeita ao mistério, há alguns momentos mais previsíveis, principalmente nas questões associadas ao pai de Tory, mas há também algumas surpresas, sendo de realçar o final que, apesar de um pouco abrupto, consegue surpreender. Quanto à parte romântica, quer no que diz respeito a Tory, quer na história de Faith, a resolução também não é propriamente inesperada. Ainda assim, a empatia entre personagens e a forma como o contraste entre personalidades realça essa empatia acaba por compensar os momentos mais previsíveis.
Envolvente e de leitura agradável, com bastante de romance e um toque de humor, Lua de Sangue apresenta uma história leve, mas com um lado sombrio particularmente interessante. Uma boa história, portanto, com personagens cativantes e muitos bons momentos. Gostei.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Doppelgänger (Alex Seven)

Evocando sentimentos pessoais, mas através de imagens inesperadas, este é um conjunto de poemas em que texto e ilustração se complementam, para transmitir, em simultâneo, a familiaridade e a estranheza do sujeito poético, na sua visão do mundo. Evoca-se nostalgia e afecto, ideais e vontades de mudar o mundo, mas também algo de melancolia e de desilusão na percepção de se ser uma única parte de um todo maior. Fala-se de sentimentos universais, na perspectiva muito pessoal da voz que os expõe, mas com um cenário e uma percepção exclusivas do indivíduo e, por isso, diferentes e particulares. O resultado é uma poesia elaborada nas imagens que constrói, livre a nível de estrutura e muito interessante no equilíbrio entre proximidades e divergências.
Há muitos pontos, na identidade do "eu" destes poemas, de fácil compreensão para quem lê. O sonho, o amor, a ideia de um mundo possivelmente melhor - e, por outro lado, a nostalgia, a saudade, a sensação de algo que se perdeu - são facilmente reconhecidos nas palavras destes poemas. A sua forma de expressão, ainda assim, tem algo de próprio, quer pela peculiaridade dos cenários em que se incluem, quer pela própria elaboração da linguagem, que reforça a complexidade desse ambiente invulgar. São, na verdade, os poemas mais elaborados, os mais marcantes do livro, já que, ao afastar normas estruturais e o ocasional recurso à rima, permitem uma expressão mais livre de todas as complexidades da ideia.
O mesmo equilíbrio entre normal e invulgar surge também na relação entre o texto e a ilustração. Esta é, no seu essencial, bastante simples, mas parece adequar-se na perfeição ao texto, criando para ele uma imagem visual mais clara e, por vezes, tornando mais completa a visão do conjunto. Não são imagens particularmente elaboradas, o que reforça um pouco mais o contraste entre a simplicidade externa e as complexidades interiores, mas embelezam a edição, ao mesmo tempo que realçam o impacto de alguns poemas. 
Há alguns poemas particularmente marcantes, que sobressaem relativamente aos outros, quer pelo impacto do conteúdo, quer pela melhor construção a nível de estrutura e linguagem. Estes, em particular, ficam na memória bem depois de terminada a leitura. Ainda assim, há em todos eles algo de interessante para descobrir, e a verdade é que até o mais simples dos poemas deste livro contribui para a imagem global do indivíduo através da passagem do tempo e da vida. Imagem que é, no fim de contas, a que sempre sobressai deste conjunto. Muito bom.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Irma Voth (Miriam Toews)

Aos dezanove anos, Irma Voth carrega consigo o segredo que levou a que a sua família partisse do Canadá para o México. Enquanto parte de uma comunidade menonita, Irma está habituada ao isolamento e à pobreza do lugar em que vive. E, mesmo tendo ousado casar com alguém de fora da comunidade, parece não haver forma de, algum dia, partir. Mas as mudanças começam a acontecer quando uma equipa de filmagens chega para produzir um filme sobre aquele lugar e Irma é convidada a integrar a equipa como tradutora. O problema é que a comunidade em geral - e o pai de Irma em particular - não estão muito receptivos à ideia de um filme sobre a sua forma de vida. E, quando a tensão começa a crescer, a única solução possível parece ser partir.
Narrado na primeira pessoa e num registo bastante pessoal, este é um livro que, apesar das peculiaridades da forma de vida dos menonitas, se centra essencialmente na história individual da protagonista. É claro que o meio a que pertence condiciona a sua forma de vida, e as diferenças são evidentes na dificuldade de interacção entre os menonitas e a equipa de filmagem, mas os problemas de Irma não resultam das regras da sua comunidade, e sim das atribulações, segredos e tragédias da sua vida familiar. 
Irma é uma protagonista jovem, pelo que é possível acompanhar parte do seu crescimento, não a nível físico, mas no que diz respeito à evolução das suas impressões do mundo e da vida. A mesma história familiar que a atormenta com sentimentos de culpa é também a razão para que Irma não conheça o mundo para lá do lugar em que vive. Assim, a chegada da equipa de filmagem surge como factor de mudança, já que, além de apresentar Irma a pessoas e pontos de vista diferentes, expande também a sua percepção da vida que viveu até então. Aceitar o convite para pertencer à equipa é apenas o primeiro passo para um caminho em direcção à independência, e esse caminho é narrado de uma forma muito íntima, abrindo ao leitor todos os sentimentos e pensamentos da protagonista.
Sendo um reflexo dos pensamentos e memórias de Irma, é natural que a escrita não seja particularmente elaborada. Na verdade, o estilo directo e sem grandes floreados parece adequar-se, na perfeição, à personalidade da protagonista, reflectindo as suas hesitações e vulnerabilidades e reforçando ainda um pouco mais a empatia que caracteriza a sua história. História que deixa várias questões em aberto, quer a nível do que acontece à família de Irma nos momentos em que esta está ausente, quer na forma como a história se encerra, deixando no ar várias possibilidades. Fica, é claro, a impressão de que mais haveria a dizer, nalguns aspectos, mas essa ausência de todas as respostas acaba por realçar o impacto da partida. O leitor não fica a saber tudo o que aconteceu, porque a própria Irma não o sabe.
Esta é, portanto, uma história que, apesar da sua caracterização de um modo de vida invulgar, se centra, acima de tudo, na existência individual de Irma, no que a define e nas suas relações com o mundo. Cativante e de leitura agradável, marca também pelos traços de melancolia que parecem surgir ao longo de toda a história, e que reforçam a proximidade que faz desta história uma boa leitura. Vale a pena ler.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sussurros Ousados (Emma Wildes)

Tudo começa com um gesto de auxílio um pouco indecoroso... e um sussurro capaz de despertar a tal ponto a curiosidade da sociedade que se fazem apostas quanto às palavras proferidas. Mas, para os protagonistas do pequeno escândalo, o que a sociedade pensa não é assim tão relevante. Lorde Augustine já é motivo de mexericos, tanto pelo facto de o seu sangue não ser totalmente inglês como pelo facto de ter vindo da América para reclamar a sua herança. Quanto a Lady Cecily, há no seu um espírito bem mais forte e determinado que o expectável das recatadas senhoras inglesas. E basta o primeiro momento, ligeiramente escandaloso, talvez, mas aparentemente inocente, para que ambos comecem a perceber que talvez estejam destinados uns aos outros, independentemente dos seus planos pessoais.
Romance e sensualidade, mas também um toque de mistério e as medidas certas de humor e emoção, são os elementos essenciais deste livro leve e cativante, em que a história se centra, em grande medida, na relação do casal protagonista, mas sem perder de vista aqueles que os rodeiam. O romance é o centro do enredo, com a ligação entre Cecily e Jon a crescer gradualmente desde o peculiar primeiro contacto à fase final particularmente intensa, mas há tanto a dizer sobre a relação entre ambos como sobre as suas histórias individuais e as dos que os rodeiam. Jon traz um passado consigo, a história de uma filha cuja origem não quer contar, e assuntos a resolver com uma família com más expectativas a seu respeito. Cecily tem um pretendente interessado na sua mão, mas que julga mais adequado para a irmã que, primeiro, terá chamado a atenção do dito nobre. Tudo isto serve de base para um desenvolvimento da sua personalidade, para lá da forma como lidam um com o outro, e, ao mesmo tempo, serve de base para definir o que têm em comum.
Parte do que torna a história cativante é, naturalmente, a ligação entre os protagonistas. E o facto é que está é bastante bem conseguida, com a atracção inicial a dar lugar a sentimentos mais profundos, sem por isso perder de vista as outras relações de cada um deles. Há, também, os expectáveis momentos mais sensuais, mas que nunca se tornam exagerados relativamente ao desenvolvimento do restante da história. O enredo é, portanto, bastante equilibrado neste aspecto, havendo uma natural fluidez na evolução dos acontecimentos e na forma como o restante do enredo se encaixa na parte mais romântica. 
Mas a empatia não surge apenas entre as personagens. As questões no passado de ambos, uma certa nobreza de princípios e o apego aos elementos da família são características comuns a ambos os protagonistas e aspectos que os tornam mais carismáticos para o leitor. Junte-se a isto um agradável sentido de humor e a força emotiva acrescentada pela presença de um certo factor de perigo, e o resultado é uma leitura bastante viciante.
Este é, portanto, um livro que, apesar de ter como centro o romance, cativa pela forma como desenvolve para os seus protagonistas uma história e um contexto maiores que a simples relação entre ambos. Leve e agradável, com uma boa história e personagens fortes, um livro envolvente e viciante. Muito bom.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Vénus em Peles (Leopold von Sacher-Masoch)

Um sonho estranho, contado por um narrador desconhecido, leva Severin von Kusiemski a recordar o tempo em que as suas mais estranhas fantasias se tornaram realidade. Enamorado pelo ideal de uma Deusa do Amor, Severin sentiu-se, ao mesmo tempo, assustado e atraído para Wanda, imagem quase perfeita da mulher das suas fantasias. E, tomado por um amor obsessivo, decidiu-se a ser seu marido ou seu escravo. Tentando-a com a sua submissão incondicional, Severin fez de Wanda uma Senhora cruel - com o seu consentimento. E, a partir daí, viveu as suas fantasias, com iguais medidas de prazer e de dor. Mas por um preço...
Estranho e cativante em medidas iguais, este é um livro difícil de definir. Centrado nas fantasias de Severin, e na forma como estas se concretizam, aborda a sexualidade e as relações de controlo e de submissão, mas o erotismo é bem menos explícito do que seria de esperar. Levanta várias questões sobre o papel do homem e o da mulher numa relação, com uma perspectiva, por vezes, invulgar (tendo sempre em conta a época em que foi escrito), mas os pontos de vista das personagens sobre essas questões parecem mudar, invertendo-se, por vezes, as perspectivas que exprimem. E o tantas vezes invocado amor que move tanto Wanda como Severin parece também invulgar na sua forma de expressão.
Há, portanto, bastantes factores de estranheza neste livro. Contudo, há também uma interessante evolução a nível das personagens, à medida que o enredo se desenvolve. A fantasia parte de Severin e, por isso, Wanda tem de se adaptar ao seu papel. Consegue-se, assim, ver o seu crescimento, da mulher de ideias bem definidas, mas que está a entrar num papel que lhe é desconfortável, à segura manipuladora que consegue ser tanto a amante como a Senhora, segundo a sua vontade e o que pretende para Severin.
No fim, quase todos os momentos de maior estranheza parecem ter servido um objectivo, na meticulosa manipulação de Wanda relativamente aos sentimentos e vontades do seu escravo, enfatizando, mais uma vez, as questões de poder nas relações entre homem e mulher. Isto não afasta a peculiaridade de certas circunstâncias, mas torna-as mais facilmente compreensíveis, acrescentando algo de fascínio à estranheza das situações mais bizarras.
Peculiar em muitos aspectos, mas cativante tanto na escrita como no enredo, este é, pois, um livro onde erotismo e manipulação se confundem, numa história em que, quando a fantasia e a realidade se confundem, o bizarro e o fascinante parecem estar, inevitavelmente, ligados. Uma leitura interessante, portanto.

Novidade Porto Editora


A descoberta do cadáver de uma jovem na Catedral de Santiago de Compostela cai como uma bomba  na cidade. Ao mesmo tempo desaparece um manuscrito de Prisciliano, o grande herege galego. O comissário Castro ocupa-se de ambos os casos com a ajuda de dois jornalistas determinados: Laura Márquez, uma jovem bolseira que chega à cidade fugindo dos seus próprios fantasmas, e Villamil, um repórter veterano e meio anarca que já conheceu dias melhores na profissão.
Uma trama em ritmo crescente onde se cruzam ecologistas, peregrinos, professores universitários, tubarões das finanças e padres que fazem as suas próprias apostas de salvação numa cidade levítica. 
A Marca do Herege é um thriller viciante que nos convida a viajar no tempo, transferindo a atmosfera ameaçadora do melhor romance policial para as ruas inesquecíveis de Santiago de Compostela.

Licenciada em Geografia e História pela Universidade de Santiago de Compostela e em História da América pela Universidade de Barcelona, reside actualmente em Valência, conjugando o ensino com o jornalismo e a crítica de cinema.
Os seus romances estão traduzidos em 12 línguas e obtiveram numerosos prémios. Em Portugal, estão publicadas as suas obras Querido Corto Maltese,  Ternos e Traidores,  Fronteiras de Areia,  O Amante Albanês e Quattrocento – A Conspiração Contra os Médicis.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Problema Espinosa (Irvin D. Yalom)

Muito antes do seu papel na definição das ideologias do Terceiro Reich, Alfred Rosenberg é confrontado com um desafio ao seu vincado ódio aos judeus. Após um discurso particularmente inflamado, poucas semanas antes da formatura, o director apresenta-lhe um trabalho cujas questões virão a permanecer na sua mente. Como é possível que Goethe, ídolo de Rosenberg e sua imagem perfeita do ideal germânico, possa ter encontrado tranquilidade nas ideias de Espinosa, um judeu? Ao longo da sua evolução no partido nazi - e da ascensão do partido ao poder - as ideias de Espinosa virão a ser o grande problema na mente de Rosenberg, levando-o a questionar, ainda que com argumentos também questionáveis, a possibilidade de integrar uma linha de pensamentos com que se identifica na sua visão dos judeus enquanto inimigo essencial e raça inferior. E, enquanto lhe são atribuídas funções cada vez mais importantes, Rosenberg acaba por sentir, ainda que caminhando em sentido oposto, o impacto do mesmo isolamento do próprio Espinosa após a sua excomunhão. Com a diferença inevitável de que a obstinação de um é uma ideia fixa, enquanto a de outro reside numa racionalidade incomparável.
Duas histórias, para duas personagens, formam parte deste livro: a de Espinosa e a de Rosenberg, dois protagonistas separados pelo espaço de séculos e por uma clara diferença de ideias, mas que acabam por ter vários pontos em comum. A narrativa alterna entre o percurso de Rosenberg antes e durante a ascensão do nazismo, e a vida de Espinosa na iminência e após a sua excomunhão. Em comum, têm a perspectiva da solidão e é neste aspecto que se encontra um dos grandes pontos fortes do livro, já que, diferentes como são as suas histórias, o autor consegue realçar, de forma magistral, os efeitos do progressivo isolamento nos seus dois protagonistas. Além disso, também este contexto realça as suas diferenças de personalidade. Espinosa escolhe a solidão quase total, em nome de uma vida dedicada à razão. Já Rosenberg depende quase obsessivamente da necessidade de louvores e do afecto do líder, tornando-se instável e insensato. 
Mas nem só isso diferencia os dois protagonistas. Desde logo, as diferenças a nível de contexto histórico tornam o seu percurso muito diferente. Mas, além das disparidades do ambiente em que se enquadram e das divergências a nível de intelecto e forma de encarar o seu papel no mundo, há as ideologias, e nessas há muito a considerar. Por um lado, as ideias de Espinosa são apelativas para Rosenberg, sendo essa uma parte essencial do seu problema. Por outro, a sempre presente obsessão de Rosenberg pela superioridade da raça entra em colisão com a ideia da união baseada em elementos racionais. Além disso, o contraste de ideias não existe apenas entre as posições de ambos os protagonistas, sendo também evidente no questionar das crenças estabelecidas, particularmente no que diz respeito a Espinosa.
Tudo isto implica que haja bastante exposição e debate de ideias, quer a nível de conceitos filosóficos, quer no que toca aos métodos da psicanálise. Nada se perde, ainda assim, por estes momentos mais descritivos em que a exposição de pensamentos se torna dominante. Muito pelo contrário. Este desenvolvimento de ideologias torna as personagens mais complexas, até porque, para os seus momentos de meditação e racionalidade, há também situações de tensão ou de medo que lhe opõem instinto e emoção. A história nunca perde a envolvência, portanto, resultando de tudo isto uma leitura com muito material para reflexão, mas também com um enredo sempre interessante para acompanhar.
Trata-se, pois, de uma história que é tanto de ideias como de personagens, e que conjuga na perfeição os elementos mais interessantes das duas partes. Complexo, mas sempre envolvente, O Problema Espinosa consegue ser, em simultâneo, uma leitura compulsiva e uma boa base para reflectir sobre várias questões e ideias. E é este equilíbrio perfeito entre todos os seus elementos que o torna tão bom. Recomendo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Um Anjo Falou Comigo (Theresa Cheung)

Intuições para uma mudança de planos que acabam por impedir um incidente dramático. A sensação de uma presença reconfortante ou de ouvir palavras ternas de alguém que já partiu. Figuras que surgem na hora certa para prestar auxílio e que não voltam a ser vistas. Estas são algumas das situações que Theresa Cheung considera como resultado da intervenção dos anjos. E é de histórias como estas que é feito este livro, em que, além de apresentar a sua própria visão do que são, afinal, os anjos e de como intervêm na vida das pessoas, a autora reúne também um conjunto de histórias que marcam, independentemente da crença.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro - tal como de outros desta autora - é a forma como esta apresenta uma ideia dos anjos que não depende de nenhum sistema específico de crenças. Há, naturalmente, uma base espiritual e a necessidade de uma certa medida de fé, para explicar certas circunstâncias. Mas nem as histórias, nem os pontos de vista da autora, se ligam directamente a qualquer sistema religioso ou crença mais específica. A fé associada aos anjos, tal como apresentados neste livro, exige pouco mais que disponibilidade para acreditar e a ideia de uma vida para lá do fim, o que torna tudo mais fácil de assimilar, independentemente do sistema de crenças de quem lê.
Mas o mais importante são as histórias, ou não fossem elas a componente essencial do livro. As teorias e pontos de vista da autora são descritas de forma muito sucinta e directa, desenvolvidas ao ritmo da interpretação dos relatos apresentados. E as histórias em si são também narradas de forma bastante simples, reflectindo, na maior parte dos casos, a voz dos seus protagonistas e, desta forma, transmitindo parte da intensidade das suas emoções. Além disso, a grande maioria dos casos marcam, essencialmente, pela ternura e afecto que evocam, sendo que, nalgumas delas, a possível associação aos anjos é muito discreta. É possível, assim, apreciar a história pelo que é, simples ou dramática, mas sempre emotiva, e é possível, independentemente da crença, reconhecer o seu  impacto emocional.
Trata-se, pois, de  um livro que, apesar de tratar de questões relativas à espiritualidade (e que, portanto, implica algo de fé para aceitar as interpretações de algumas circunstâncias), se distancia da associação dos anjos a uma crença específica, realçando antes as histórias e as suas circunstâncias, para falar de acontecimentos que, inexplicáveis ou não, acabam por ter sempre algo de marcante. Uma boa leitura, portanto.