quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Intruso (Carina Rosa)

Sara está à beira do abismo. Desde que o noivo morreu no dia do casamento que se afundou numa depressão que, com o passar do tempo, apenas se agravou. Sara vê-o em toda a parte, sente-o como uma presença invisível, encontra-o nos seus sonhos. O passado é uma sombra da qual não se consegue libertar. Mas tudo muda quando conhece Martim. Apesar das circunstâncias desastrosas em que se conhecem, basta um primeiro olhar para que ambos sintam que já se conheciam antes, talvez de outro tempo, e que há um sentimento forte à espera de nascer nas suas vidas. Mas Rodrigo permanece presente na vida de Sara e não está disposto a libertá-la, muito menos a vê-la feliz com outro homem. O romance entre ambos não pode acontecer. E ele fará o que for necessário para o impedir.
Em parte romântico e em parte sombrio, este é um livro que, não sendo particularmente elaborado, cativa principalmente pela história envolvente. As sombras na vida de Sara e os elementos sobrenaturais que se vão revelando opõem algo de obscuro à quase leveza com que o afecto vai crescendo entre os protagonistas, o que contribui para que a história se mantenha envolvente. Além disso, o facto de tanto Sara como Martim terem um segredo no passado torna as suas histórias complementares, despertando, ao mesmo tempo, algo de empatia para com eles. Importa ainda acrescentar que, apesar de muito do enredo se centrar nos protagonistas, há alguns elementos aparentemente secundários que, além de cativantes (e, no caso de Mike, enternecedores) acabam por ser muito relevantes para o enredo. 
Ainda que haja vários momentos de acção, o ritmo não é propriamente compulsivo. Principalmente no início, a descrição dos sonhos e de algumas características do cenário cria para a evolução do enredo um ritmo relativamente pausado. Para isso contribuem também alguns recuos a acontecimentos passados, que, ao serem apresentados aos poucos, permitem prolongar um pouco o mistério, mas que, não estando bem identificados e uma vez que surgem numa fase inicial da história, quando as personagens ainda não são muito familiares, tornam a leitura um pouco confusa. Esta estranheza inicial desaparece com o maior desenvolvimento da relação entre os protagonistas, levando a que a história cresça em intensidade à medida que novas revelações são apresentadas.
A nível de escrita, há algumas fragilidades a apontar, não muito graves, mas facilmente detectáveis. Há algumas gralhas ao longo do texto, mas não ao ponto de prejudicarem muito o ritmo de leitura. E há alguma confusão no sentido de algumas palavras e no uso de alguns tempos verbais, fazendo com que partes do texto pareçam um pouco mais confusas do que poderiam ser. Não são falhas que surjam com muita frequência, mas, por serem facilmente reconhecíveis, acabam por quebrar um pouco a envolvência do enredo.
De referir, por último, que, ainda que não fiquem grandes pontas soltas no enredo principal (excepção feita ao final, particularmente ambíguo, mas adequado, tendo em conta as circunstâncias do enredo), há algumas questões que ficam sem resposta, principalmente no que diz respeito a uma das presenças sobrenaturais, mas também à sensação de reconhecimento entre Sara e Martim, que nunca é completamente explicada. Não são respostas essenciais ao desenvolvimento do enredo, é certo, mas fica sempre algo de curiosidade e a sensação de que mais poderia ter sido explorado neste aspecto.
Tudo somado, a impressão que fica deste livro é a de uma história relativamente simples, mas com um bom enredo e um interessante toque de mistério. Haveria, talvez, mais a desenvolver nalguns aspectos da história e mais algumas questões que poderiam ter sido esclarecidas. Foi uma leitura agradável, ainda assim, e com um lado sombrio particularmente cativante. Gostei, portanto.

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