segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Serra Negra (Carlos Alberto Saloio)

Tudo começa quando Erich Müller, um detective privado cujo trabalho lhe valeu a designação de "último caçador de nazis" é informado de que um dos assistentes de Mengele estará a viver em Londres, como um pacífico alfarrabista. E a situação é difícil, já que o homem que conseguiu as fotos que provam a identidade desse homem foi assassinado quando ia ao encontro de Erich. Ainda assim, esse homem teve o cuidado de encontrar uma forma alternativa de enviar as fotos ao seu destinatário, ciente de que o fim estaria próximo, e Erich tem agora uma investigação para conduzir. Mas as coisas cedo se complicam, já que o filho de uma das suas testemunhas é raptado, obrigando-os ao silêncio até que encontrem uma solução para o problema. E, como se não bastasse, há uma força maior a investir nos projectos do assistente de Mengele, e uma mulher com um segredo capaz de levantar problemas à perseguição de Erich à sua presa...
Escrita directa e um enredo com as medidas certas de acção e mistério são os grandes pontos fortes deste livro em que os segredos das diferentes personagens se cruzam para dar forma a uma sequência de acontecimentos intensos e, por vezes, surpreendentes. O que primeiro chama a atenção é, naturalmente, a relação entre a linha geral dos acontecimentos e o ocorrido durante as experiências de Mengele, estabelecendo, para as personagens, uma relação com o passado que as condiciona. O enredo decorre na actualidade, mas a ligação a Auschwitz influencia os acontecimentos, e isso aplica-se tanto ao segredo na ascendência de Erich Müller como à ligação entre Mengele e as novas experiências de Klaus, razão justificativa das circunstâncias em que vive e dos aliados que tem. 
Há, assim, um interessante equilíbrio entre os acontecimentos do enredo e as ligações ao passado. Mas nem só isso contribui para tornar cativante esta leitura. As próprias personagens, e a forma como novos elementos surgem para ligar aspectos que, aparentemente, não têm grande relação, servem de base a alguns momentos bastante surpreendentes, ao mesmo tempo que levantam novas questões. Estas, mais pessoais, já que, enquanto as experiências de Klaus evocam questões éticas sobre o processo de clonagem e que tipo de procedimentos são aceitáveis em nome da ciência, a história de Erich questiona a necessidade de decidir entre a escolha racionalmente certa e os elos pessoais.
O estilo de escrita é bastante simples e as descrições surgem apenas na medida em que são necessárias ao enredo. Assim, fica, por vezes, a impressão de que mais poderia ser dito, nalguns momentos, e que alguns dos momentos de maior tensão teriam um maior impacto se não fossem apresentados de forma tão sucinta. Não ficam, ainda assim, grandes perguntas sem resposta, excepto no que diz respeito à "Forza Europa", mas é possível que algumas dessas respostas estejam nos outros livros do autor. Fica, sim, a curiosidade em ler mais.
Centrado na acção, mas com alguns desenvolvimentos interessantes a nível de contexto e personagens, trata-se, em suma, de uma leitura cativante e agradável, surpreendente, por vezes, e que levanta, apesar da sua relativa simplicidade, algumas questões pertinentes. Uma boa história, portanto. Gostei.

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