Felix e Zelda conseguiram fugir do comboio que os levava para um campo de morte, mas a situação continua a ser desesperada. E a única esperança das duas crianças é encontrar alguém que os possa proteger e esconder dos nazis. Após um início atribulado, encontram Genia, que aceita escondê-los em sua casa, com novos nomes e novas histórias. Mas os nazis estão em toda a parte e o perigo de serem descobertos é uma constante. Por isso, Felix sabe que tem de fazer planos. E, se for preciso ir embora para que Zelda fique mais segura, então é isso que fará.
Com duas crianças como protagonistas e o mais negro dos cenários como base, este é um livro que tem no seu equilíbrio entre inocência e crueldade a sua maior qualidade. Talvez por serem tão jovens, Felix e Zelda ainda conseguem ver o mundo com a inocência de quem procura a bondade e, mesmo quando assistem ao pior da natureza humana, mantêm esperanças e sonhos, ainda que difíceis de alcançar. E é isso que torna tudo tão marcante: quando a crueldade reina em toda a parte, haver crianças capazes de sonhar e pessoas capazes de se arriscar por elas é algo de especialmente impressionante, e o autor retrata este contraste na perfeição.
Também interessante é a forma como o autor simplifica um tema complexo sem lhe retirar nenhuma da sua brutalidade. Sendo um livro juvenil, faz sentido que a história não se alongue demasiado em linhas secundárias, embora fique uma certa curiosidade acerca de algumas personagens menos centrais. Mas o essencial está lá, no que Felix e Zelda têm de presenciar, nos medos, nos perigos, no comportamento dos que os rodeiam. E, se o contexto mais vasto fica para segundo plano, isso não tem assim tanta importância, porque é possível ver os horrores do todo por esta pequena parte - e ver o impacto sobre os mais inocentes de todos.
Também na escrita se reflecte este contraste entre inocência e crueldade, pois, pese embora os momentos mais perturbadores, a escrita flui com uma simplicidade quase leve. E é também por isso que o final tem o impacto que tem: porque há tanta esperança e tanta inocência pelo caminho que ver a forma como tudo termina - e tentar imaginar o que poderá vir a seguir - é algo de particularmente avassalador.
Simples quanto baste, mas com um poderoso contraste entre a inocência da juventude e a crueldade de um dos momentos mais negros da História, trata-se, pois, de uma história notável. Cativante, surpreendente e emotiva, uma leitura marcante e uma série para continuar a acompanhar.
Título: A Seguir
Autor: Morris Gleitzman
Origem: Recebido para crítica
Muito bem
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