Carter Blake é um homem peculiar. O passado que deixou para trás dotou-o de um talento especial para encontrar pessoas que não querem ser encontradas. Mas, embora o caso que tenha em mãos não seja particularmente complexo, há algo no seu caminho que está prestes a mudar drasticamente. Em tempos, deixou a Winterlong, a organização a que em tempos pertenceu, com uma espécie de pacto de não agressão. Mas a estrutura organizacional alterou-se e o passado está de volta para atar, enfim, todas as pontas soltas. E eis que, habituado a seguir e localizar, é agora Blake quem está em fuga e à procura de uma solução para o problema que não acabe com o seu cadáver largado algures.
Sendo um dos grandes pontos fortes desta série a construção do seu protagonista, não é propriamente uma surpresa que seja este livro, com toda a sua exposição do passado de Carter Blake, o que revela a personagem no seu máximo potencial. Já nos volumes anteriores era uma figura intrigante, com o seu passado tortuoso, a sua postura enigmática e a impressão, apesar de tudo, de um coração no sítio certo. Mas é aqui que tudo é finalmente explicado: a vida de Blake antes da sua estranha profissão, o que levou à partida e de que forma conseguiu garantir alguns anos de relativa paz. Além, é claro, de toda uma sucessão de relações e inimizades passadas que ganham agora toda uma nova dimensão.
E, sendo certo que bastava Carter Blake para tornar a leitura memorável, há ainda muito mais a acrescentar às impressões desta leitura. O enredo, dividido entre o estranho caso de Bryant e a inevitável perseguição a Blake, está todo ele repleto de momentos de tensão e de perigo. Há sempre algo a acontecer, o que torna a leitura viciante, mas há também laivos de emoção e de humor que tornam o todo mais abrangente, além de criarem uma maior proximidade entre leitor e personagens. E a forma como o autor desenvolve a narrativa, num equilíbrio perfeito entre todas as suas facetas, faz com que todos os momentos, grandes e pequenos, tenham o máximo impacto possível.
Mas há ainda um outro aspecto que, presente já nos volumes anteriores, ganha também aqui nova relevância. Enquanto organização secreta e com ampla liberdade de acção, a Winterlong cruza barreiras injustificáveis. E a forma como esse aspecto é abordado, com as consequências que teve na vida de Blake, mas não só, desperta a sempre pertinente questão do que é ou não aceitável em nome de uma suposta segurança.
De tudo isto resulta uma leitura viciante, cheia de surpresas e com um protagonista que nunca deixa de cativar. Intenso, poderoso e com um equilíbrio deveras eficaz entre acção, humor e questões de consciência, um livro que eleva ainda mais as expectativas para o que poderá ser o futuro do enigmático Carter Blake. Muito bom.
Título: O Fugitivo
Autor: Mason Cross
Origem: Recebido para crítica
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