domingo, 6 de dezembro de 2020

O Peixinho que Não Sabia Nadar e outras histórias... (Onofre dos Santos)

Um peixinho que, nos seus primeiros instantes de vida, não consegue aprender a nadar sozinho - e que conta com uma ajuda inesperada. Uma pequena árvore que quer crescer e ver o sol - sem saber as consequências que isso implica. E um cãozinho muito estranho - mas, à sua maneira, mais que perfeito. São estas as linhas de partida para as três histórias que compõem este livro: um livro que, embora nitidamente pensado para os mais novos, facilmente consegue cativar leitores adultos.
Provavelmente o aspecto que mais surpreende neste livro é que, sendo um livro pensado para crianças, o registo da escrita consegue, ainda assim, adoptar uma certa profundidade. A história do peixinho, que é também a história de um avô a contar essa história à neta, é simultaneamente o nascer de uma nova vida, uma aventura perigosa e uma recordação de que também a vida termina. Já a da árvore vai ainda mais longe nesta percepção da mortalidade. E, assim, surpreende este lado menos sonhador das coisas que, contrastando com a inocência geral da história, lembra à magia da infância que tudo é possível... mas tudo termina.
Não quer isto dizer que seja um livro triste. Muito pelo contrário. O entusiasmo da pequena Leonor com a história do peixinho - e o da outra pequena Leonor com o seu «cãozinho» - vem acrescentar um rasgo de leveza a este registo mais sério. Além disso, há um carpe diem para cada memento mori. E a lembrança da mortalidade nestas histórias é também um elogio à vida e as coisas que realmente importam.
Importa salientar, por último, dois pontos que contribuem para este equilíbrio delicado: as ilustrações, que dão vida aos acontecimentos, e a escrita, por vezes surpreendentemente poética, mas marcada sobretudo por um registo tão próximo que é quase como ouvir uma voz a contar a história.
O que fica da soma das partes é, pois, uma leitura breve, mas surpreendentemente profunda e com um poderoso equilíbrio entre inocência e realismo. Bom para fazer sonhar - e para lembrar a realidade - um belo conjunto de histórias para pequenos e grandes leitores. Muito bom.

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