Um estranho triângulo amoroso, pautado pelo desejo e pelo mistério. É esta a história que Zerlina, a criada, conta ao senhor A., a história de como, apesar do seu casamento com o juiz conselheiro, a baronesa Elvira se envolveu com o senhor de Juna e de, como, numa estranha oscilação entre a inveja o desejo, também Zerlina decidiu conquistar o mesmo homem, vendo-se este perante as atribulações de ter de se livrar da mulher para satisfazer os caprichos das duas amantes.
Breve, com uma escrita poética, ainda que não muito sentimental, esta pequena história cativa essencialmente pela forma como é apresentada. É a própria Zerlina a contar as suas acções, cuidadosamente aliadas aos seus pensamentos e sentimentos. Mas, entre as suas palavras, podemos ver também os comentários e reacções do senhor A., o que acaba por transmitir a sensação de que Zerlina está a responder a perguntas que também o leitor se faz.
Amor e desejo são aqui separados por uma linha muito ténue. Por um lado, Zerlina fala quase com desprezo do "chorrilho sentimental" presente nas cartas entre a baronesa e o senhor de Juna. Por outro, também ela sente por ele uma atracção inexplicável, mas que acaba por oscilar entre períodos de obsessão e de desprendimento total. Fica, por isso, a dúvida. Qual das duas mulheres (se alguma) amaria verdadeiramente o senhor de Juna? E ele, sentiria algo mais que atracção por qualquer delas?
Ainda uma referência para a postura do juiz conselheiro que, ciente da verdade e com os meios para concretizar a sua vingança, representa nesta história onde a traição parece ser quase banal, a figura recta, paciente e compassiva do homem fiel e (mais uma vez, segundo Zerlina) santo.
Interessante, ainda que bastante breve, a história de Zerlina cativa e faz reflectir. Fica apenas, através do pouco que é revelado do senhor A., a sensação de que também ele teria uma história a ser revelada e da qual não foi possível vislumbrar senão alguns detalhes.
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