O Contrabaixo (Patrick Süskind)

A música, os compositores, o funcionamento de uma orquestra... Neste monólogo, acompanhamos as divagações de um contrabaixista sobre as suas experiências e opiniões relacionadas com a sua vida no mundo da música. E isto engloba aspectos tão diversos como os defeitos dos compositores famosos, a técnica de se tocar contrabaixo, o seu papel na orquestra ou a paixoneta que alimenta por Sarah, a soprano.

Com um tom que, de forma geral, é de devaneio, mas que passa também por momentos de desânimo e algumas explosões de emoção, a voz do contrabaixista expressa-se ao ritmo das suas próprias reflexões. Interrompe-se para dar voz à música, ou para controlar as emoções ou quebras de pensamento que o fazem hesitar. Divaga entre uma seriedade profunda e alguns momentos de humor, principalmente ao atribuir a personalidades como Schubert ou Mozart algumas peculiaridades interessantes.

A música é a base. Por isso, e principalmente na fase mais dedicada à apresentação do papel do narrador na orquestra, e às consequentes explicações sobre música e sobre os diferentes sons que é capaz de produzir com o seu contrabaixo, é possível que a descrição se torne um pouco excessiva para quem não tiver tanto interesse nestes aspectos, ou para quem não conhecer bem os termos. Ainda assim, este é um texto que conquista aos poucos. Inicialmente, o narrador não parece ser propriamente um indivíduo cativante, mas a sua relação com a música, a sua visão de quase inevitabilidade perante a hierarquia da orquestra e a paixão por Sarah que, lentamente, se revela nas suas palavras, acabam por criar um elo com o leitor, deixando no final alguma dúvida acerca do futuro deste contrabaixista.

Breve, mas interessante, este é um daqueles livros em que a primeira impressão é de estranheza, mas que, aos poucos, acaba por ficar na mente do leitor. Um livro que recomendo particularmente àqueles que gostam de música.