sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Leya Contos

Nomes já conhecidos da literatura nacional juntam-se neste pequeno livro para apresentar um pequeno conjunto de contos de estilos e temas variados que, de forma breve, permitem ao leitor conhecer um pouco da sua obra. E há-os para todos os gostos, do mais simples ao mais elaborado, com mais ou menos divagações e emoções pelo caminho.
O livro abre com o conto Dois Homens, de Dulce Maria Cardoso. Uma breve despedida, reflexão sobre uma relação entre pai e filho, de leitura agradável e com uma escrita fluente. Não envolve, contudo, por completo, por ser demasiado breve para um tema onde haveria mais que dizer. Segue-se Castelos na Areia, de Fernando Pinto do Amaral. Nas três páginas que constituem este conto, o autor fala de encontros e separações, lançando um enigma sobre a vida do protagonista. Interessante, com uma escrita agradável e um certo mistério que deixa a vontade de ler mais.
Inês Pedrosa surge representada neste livro com o conto Um Amor na Cidade. Mais uma história de separação, esta traçada no enigmático cenário da cidade, e onde é particularmente interessante o elo estabelecido pela pintura e as descrições de tom misterioso, como se insinuando segredos que nunca chegam a ser revelados.
Nevermore, de Manuel Alegre, junta fluência e musicalidade num conto sobre música e sobre uma visita que não voltará a repetir-se. Apesar do final marcante, a brevidade do conto deixa, mais uma vez a sensação, de algo em falta. Já em Le Bel Eté, Urbano Tavares Rodrigues conta a história de um casal que, vivendo em Paris, embarca numa viagem de férias a Portugal e, num estilo fluído e cativante, fortemente emotivo, mistura na perfeição felicidade e tragédia.
Segue-se, de José Eduardo Agualusa, o conto Eles Não São como Nós, a história de como uma noite de insónia salva duas vidas. Um conto sobre a luta e a miséria, com uma escrita precisa e bastante interessante.
Em Atendedor de Chamadas, de José Mário Silva, é apresentada, sob a forma de uma sequência de mensagens deixadas no dito aparelho, o perfil de um homem e do mundo que o rodeia. Com uma estrutura invulgar, uma escrita envolvente e um final surpreendente, este é um dos contos mais cativantes do livro. Também muito bem conseguido, A Espada Japonesa, de Mário de Carvalho, um conto imaginativo sobre o efeito de uma ideia e da presença de um objecto sobre a mente e a sanidade de um homem. Envolvente, algo místico, e com um final muito intrigante.
Jangada para Longe, de Ondjaki, é um conto sobre a ânsia da viagem, reflectida na construção de um misterioso aparelho. Particularmente marcante neste conto a soberba descrição do cenário, transmitindo com mestria a ideia do sonho a alcançar. Ainda sobre o sonho, segue-se O Menino que Escrevia Versos, de Mia Couto. Aqui, o aparecimento, qual temível doença, de uma veia poética no filho de uma família de pouca cultura, parece despertar terríveis reacções, resultando num conto terno e emotivo.
Por fim, Fúria, de Patrícia Reis. Reflexo de um fragmento da relação (algo perturbada) entre um casal, com uma escrita cuidada e cativante, que parece dar voz aos mais pequenos instintos dos intervenientes.
Agradável de forma geral, não há nenhum conto neste livro que não tenha alguns pontos de interesse. Fica, em alguns deles, a sensação de que mais poderia ser dito sobre as histórias e sobre os seus protagonistas. Não deixa, ainda assim, de ser um livro interessante para revelar pontos de interesse num primeiro contacto com a obra destes autores. Gostei.

1 comentário:

  1. Concordo com grande parte do que dizes, e os meus favoritos são o da Rita Ferro e o do Mia Couto.

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