Esta é a história de Robert Jeremy Cole. Ante a morte dos pais, descobriu que tinha o dom de sentir a força vital das pessoas. Ao ser aceite como aprendiz de barbeiro-cirurgião, aprendeu a lidar com a doença e a morte. Descobriu também a sua vocação e, por isso, após longos anos de aprendizado e depois da morte do seu mestre, Rob decide dar início a uma longa viagem. O destino é a Pérsia. O objectivo: aprender com os melhores o conhecimento da medicina e, talvez, conhecer o Príncipe dos Físicos. Mas a aventura é longa e as dificuldades são muitas e a cada objectivo cumprido novas situações acabam por surgir no percurso do jovem aprendiz. Porque esta não é apenas a história de uma viagem. É a história de uma vocação e de uma vida.
Li este livro como participação em mais uma leitura conjunta do fórum Estante de Livros, e sem dúvida que foi uma obra muito bem escolhida. Preciso e detalhado na contextualização dos cenários e na apresentação da forma de vida da época histórica em que decorre a acção este é um livro onde há muito mais para apreciar que simplesmente a história do protagonista. E, se a história se inicia de uma forma bastante mais pessoal e apelativa à simpatia do leitor, apresentando Rob numa situação de perda e profunda dificuldade, à medida que a história se desenrola e que diferentes cenários e inúmeras personagens de maior ou menor relevância são apresentadas, a história já não é tanto a de Rob, mas a do mundo que ele percorre e daqueles com quem se cruza.
Num livro onde tudo é detalhadamente caracterizado e nada fica por explicar, impõe-se ainda assim o destaque a alguns aspectos. Primeiro, a questão das divergências religiosas, de importância crucial ao longo de todo o livro, não só nas diferentes leis de judeus, cristãos e muçulmanos, mas na própria atitude de desprezo que se manifesta entre diferentes fieis. Também os jogos de poder marcam uma importante presença em todo o enredo, desde as consequências por vezes fatais de uma amizade com os poderosos ao julgamento inevitável por parte das autoridades religiosas. Mas o mais intrigante, e também o mais explorado numa boa parte deste livro, é o conhecimento médico, não só nas divergências entre oriente e ocidente, mas no próprio interesse desenvolvido por diferentes físicos, na caracterização de um conhecimento muito mais vasto do que seria de imaginar para a época, e (como não podia deixar de ser) na interferência da religião na aprendizagem.
No meio de tudo isto, o protagonista acaba, por vezes, por representar um elemento onde se focam aspectos maiores, o que, aliado a uma atitude geral que não é a mais cativante quando comparada com personalidades profundamente admiráveis como a de Ibn Sina, resulta em que não seja com Rob que, a maior parte das vezes, o leitor estabelece laços de empatia. Esses laços, aliás, acabam por ser, de certa forma variáveis, uma vez que atitudes de várias personagens (Karim, por exemplo) acabam por afastar ou modificar o interesse que cada um pode representar.
Complexo e envolvente na vastidão de cenários e circunstâncias que caracterizam a época histórica em que decorre, O Físico reflecte, em toda a sua extensão, um forte conhecimento da época, aplicado a uma história intensa e pautada por vários momentos surpreendentes. Uma leitura agradável e muito, muito interessante, que me deixou com vontade de conhecer mais da obra deste autor.
Quando terminei este excelente livro de Noah Gordon fiquei com imensa vontade de ler os outros dois da trilogia! Mas ainda não os encontrei nas livrarias...
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