Os filhos do morto, a mãe dos filhos do morto, a criada da mãe dos filhos do morto e, naturalmente, o morto antes de morrer: todos contam partes de uma história que dura mais de trinta anos e tem mortos no começo, no meio e no fim, e que mais do que tudo é uma história de amor. Do amor entre um pai e os seus filhos, do amor devoto de uma filha ao seu pai, e do amor transparente entre dois amigos.
Esta é a atracção anedótica deste livro, potenciada pelo talento da escrita de Maria Cecilia Muruaga que, na sua surpreendente primeira novela, usa uma prosa reflexiva e madura, com um fino conhecimento da arte de narrar e permite que os contraditórios sentimentos dos personagens de Melincué invadam e interpelem os dos seus leitores de forma inesquecível.
Um livro estimulante, quase mítico. Representativo daquilo a que o próprio Alejo Carpentier chamou “o real maravilhoso americano”, este romance constitui uma busca das origens, a procura de uma Idade de Ouro perdida. A personagem central dispôe-se a subir Orenoco, na Venezuela, em busca de um tempo primordial, tentando assim alcançar as raizes da vida. Desfilam nesta obra os mineiros dos campos de petróleo, os padres missionários, os vaqueiros, os astrólogos, as prostitutas em busca do El Dorado, os índios dos lugares visitados, os espirítos, os rituais, as histórias e os mitos de um tempo em que um homem branco ainda não pisara o continente americano.
Para Carpentier, a América é um repto de um “novo mundo” apressadamente entrevisto por viajantes e poetas, poucas vezes correctamente apreendido.
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