Mais que a história do rei, a do homem. Para lá da visão dos seus feitos e do carácter que a história preservou (mas sem descurar estes elementos) este livro pretende centrar-se na figura de Afonso Henriques enquanto homem, capaz de sentir, de errar e de amar, como qualquer outro ser humano. E é esse lado do rei, essa figura do homem em luta por um sonho maior que ele próprio, que autora apresenta neste romance.
É na caracterização do seu protagonista que se encontra a grande força deste livro. Os grandes acontecimentos históricos estão lá, claro, e é também de referir a forma como os detalhes mais burocráticos e a vastidão de personalidades envolvidas são inseridos sem grande quebra no ritmo da narrativa. O mais cativante, ainda assim, é sempre Afonso, desde uma abertura intensa que cria para com ele uma empatia quase imediata, aos momentos em que o seu temperamento se manifesta, passando por rasgos de sensibilidade que servem também para mostrar o seu lado humano e, como tal, por vezes vulnerável.
Também a situação envolvente contribui para que o impacto de um carácter como o do soberano seja marcante. Num contexto de lealdades vacilantes e onde até mesmo uma certa devoção aos mais próximos pode ser um factor gerador de conflito, a figura real - com todas as suas responsabilidades - acaba por se revelar como alguém numa posição duramente solitária. E também este facto confere força à imagem do soberano, dividido entre a necessidade de sentir (esta particularmente evidente nas situações ligadas aos filhos, legítimos e ilegítimos) e a força que dita, pelo bem de um sonho maior, que o orgulho deve prevalecer.
Um livro envolvente e interessante, não apenas do ponto de vista dos elementos históricos, mas enquanto narrativa de uma vida e história de uma figura orgulhosa, de temperamento por vezes difícil, mas, mais que real, humana.
Fiquei curiosa. Obrigada pela sugestão!
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