quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um Estudo em Escarlate (Sir Arthur Conan Doyle)

Tudo começa quando, regressado do Afeganistão e em busca de alguém com quem partilhar as despesas de uma casa, o doutor Watson conhece o peculiar Sherlock Holmes. Mas, para além da sua particular capacidade dedutiva, da sua selectiva escolha de temas que deve dominar (chegando ao ponto de ignorar conhecimentos tão simples como o facto de a Terra girar em volta do Sol) e de um formidável dom para o violino, Sherlock tem uma actividade profissional do mais invulgar possível. A ele (e às suas capacidades) recorrem, entre outros, os inspectores da Scotland Yard quando um caso parece ultrapassar as suas capacidades de resolução. E é este o primeiro caso do invulgar detective que Watson tem a oportunidade de acompanhar: a história de uma morte estranha, onde todas as pistas parecem levar a becos sem saída.
Neste primeiro trabalho dedicado ao lendário Sherlock Holmes é, inevitavelmente, a peculiar caracterização do indivíduo o que mais marca a leitura. Com uma capacidade de raciocínio deveras impressionante, apesar de um conhecimento estritamente limitado ao que lhe poderá ser útil no trabalho de investigação, Sherlock surge como uma figura estranha, tanto nas suas capacidades como nos seus hábitos. E, contudo, há um certo contraste entre a sua estranheza e a cordialidade com que, por vezes, interage com o seu colega de casa. Já Watson cativa principalmente pela sua curiosidade insaciável, que o torna no narrador perfeito para as investigações de Sherlock Holmes.
Quanto ao caso propriamente dito, este é apresentado de forma bastante peculiar, sendo as duas partes que constituem este livro bastante diferentes. A primeira, centrada em Sherlock e nas suas investigações, apresenta essencialmente o rumo dos pensamentos e acções do detective, culminando com a captura do culpado, mas sem apresentar grande parte da sua natureza ou motivações. A segunda, por sua vez, um pouco mais lenta, mas também bastante interessante, centra-se no assassino e, com a poderosa força da vingança como base essencial, acaba por explicar tudo aquilo que de misterioso foi construído na primeira parte.
Uma leitura intrigante, ainda que não compulsiva (em grande parte pelo detalhe com que certos elementos tanto de hábitos como de cenário são apresentados) e que, com o seu protagonista invulgar - e invulgarmente capaz - deixa muito a esperar das posteriores aventuras de Sherlock Holmes. Muito bom.

1 comentário:

  1. O primeiro caso do homem que elevou a arte da detecção à categoria de ciência de rigor, graças à aliança entre uma inteligência superior, uma imaginação prodigiosa e uma capacidade de observação atenta aos mínimos detalhes aparentemente irrelevantes. As suas idiosincrasias, a sua excentricidade e o seu génio lógico-dedutivo tornaram-no um personagem literalmente "biger than life", aponto de o seu nome e fama ultrapassarem a do seu criador, fazendo esquecer que se trata de um personagem de ficção (embora inspirado numa pessoa real, como o próprio Conan Doyle confessou). Para os fãs do maior dos detectives, entre os quais me encontro, pouco importa que Sherlock Holmes nunca tenha realmente existido historicamente, pois graças ao talento do doutor Watson, vulgo Conan Doyle, sabemos que ele está vivo onde mais importa, isto é, na nossa imaginação de leitores apaixonados. Para quem, como eu, até já visitou a "sua" casa em Baker Steet e sabe que a Sociedade Sherlock Holmes, à semelhança do Pai Natal, recebe todos os anos milhares de cartas pedindo ajuda ao rei dos detectives para a resolução dos mais variados casos, não tem qualquer dúvida em subscrever a afirmação do realizador John Ford quando, face a criticas por os seus westerns serem pouco realistas, declarou peremptório: se o mito é mais interessante que a realidade, imprima-se o mito. Felizmente para a a arte (e para todos nós)que todos os artistas pensam assim. Sherlock Holmes não é excepção. Viva Sherlock Holmes, o maior e mais carismático detective de todos os tempos, seja da história real ou imaginária!

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