quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Cortiço (Aluísio Azevedo)

Da ambição desmedida (e de uma certa avareza) de João Romão nasceu o cortiço. E as gentes para lá se dirigiram, em busca de um lugar onde viver ou de um trabalho capaz de os sustentar. Está é a história dessas gentes. De João Romão, o dono do lugar, e de todos os seus planos para subir na vida, seja a custo for. De Miranda, o seu eterno rival. E também dos muitos habitantes daquele espaço, com os seus conflitos, traições e dificuldades.
O mais curioso neste livro é que, ainda que o início assim o possa indicar, não é João Romão o protagonista. Não o é, aliás, nenhum dos intervenientes nas diversas histórias que se cruzam ao longo desta narrativa. Se um elemento principal tiver de ser apontado como base de toda esta história, então é do cortiço que se trata, do local que os reúne a todos e que serve de cenário central a tantas e tão complexas desventuras.
Da mesma forma, não há propriamente um enredo linear, mas sim várias histórias que se cruzam, na medida em que muitos dos seus intervenientes vivem num espaço relativamente reduzido. Mas cada linha de acontecimentos é, por si só, uma história singular e todas elas reúnem o suficiente de intrigas, de luta e até de morte para criar a dose certa de dramatismo e de surpresa num cenário que abrange, afinal, todo o quotidiano daquela gente.
Trata-se, essencialmente, de uma visão global de várias vidas ligadas pelo mesmo espaço. E é isso mesmo que as torna tão interessantes, tão diversas, mas tão próximas que são. E, descritas de uma forma clara e marcante, sem elaborações desnecessárias, mas com uma nitidez impressionante, é incrivelmente fácil imaginar Piedade, Pombinha, Bertoleza e todos os outros como pessoas reais... escondidas entre as páginas de um livro.
Cativante, de leitura agradável e surpreendentemente abrangente, uma história de rotinas e de mudanças, no crescimento e desenvolvimento de um lugar... mas, principalmente, nos ritmos da vida de cada um.

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