Quando chegam à adolescência, todos os jovens da Irlanda sabem que têm pela frente a mais perigosa experiência das suas vidas, pois, quando menos esperarem, serão Chamados. Durante três minutos e quatro segundos, desaparecerão na Terra Cinzenta, onde o tempo passa a um ritmo diferente e os Sídhe não desistirão de os caçar até lhes deitarem as mãos. E, caso isso aconteça, sabem que o que regressará ao mundo serão restos destroçados. O objectivo dos Sídhe é simples: reduzir a nada o povo que os encarcerou na Terra Cinzenta - e recuperar o que perderam. Mas a Nação deve sobreviver e, por isso, nos colégios de sobrevivência, todos os jovens são meticulosamente treinados para o momento do Chamado. A taxa de sobrevivência tem até vindo a aumentar - mas os Sídhe não desistiram. E há algo de estranho nos últimos regressos - como que um plano escondido prestes a acontecer. Os Sídhe não desistem. E, por isso, sobreviver nunca foi tão importante.
Um dos primeiros aspectos a chamar a atenção neste livro - e o seu principal ponto forte até aos últimos capítulos - é a forma como o autor equilibra um registo leve e bastante sucinto com um enredo que é, em tudo, bastante sombrio. Desde a crueldade dos Sídhe àquilo de que alunos e instrutores são capazes enquanto se preparam para o Chamado, há muito de brutal nos caminhos desta história. E, porém, tudo é narrado com uma leveza surpreendente, que, apesar de, a espaços, dar a sensação de que mais haveria a dizer (principalmente no que toca à caracterização das personagens) acaba também por reforçar a intensidade dos acontecimentos.
No fundo, o cerne desta história é uma corrida contra o tempo... dentro de uma outra (e mais vasta) corrida contra o tempo. Os três minutos do Chamado - e a aparente eternidade a que correspondem - põem as personagens a correr pelas suas vidas. Mas o plano secreto dos Sídhe, esse, pode pôr em causa toda a população. E, à medida que as ligações entre os dois pontos se tornam mais claras, sucedem-se as surpresas e as reviravoltas, num enredo que é, todo ele, um grande crescendo de intensidade.
Ah, mas a história não acaba aqui e, sendo assim, é apenas natural que fiquem perguntas em aberto. Ainda assim, e apesar de ficar algo por dizer sobre as personagens e aquilo que as move, a impressão que fica é a de que a história acaba precisamente num ponto certo: o fim de uma batalha que parece poder ser o princípio de uma nova guerra. E este culminar ambíguo, mas não demasiado, deixa muita, muita curiosidade em saber o que se poderá seguir.
Intenso e sombrio, mas de uma leveza surpreendente, trata-se, portanto, de um bom ponto de partida para uma história que parece ter ainda muito mais potencial para desvendar. Cativante, surpreendente e com um cenário muito, muito intrigante, um início de série deveras promissor.
Título: The Call
Autor: Peadar O'Guilin
Origem: Recebido para crítica
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