domingo, 7 de fevereiro de 2010

O País do Medo (Isaac Rosa)

Carlos sempre viveu sob a sombra de um medo intenso. Pavor à violência, à agressão física, à dor. Mas o que lhe parece ser apenas uma preocupação controlável vai revelar-se como uma verdadeira obsessão a partir do momento em que descobre que o seu filho tem sido vítima de extorsão por parte de um colega de escola. Este facto vai provar-lhe a verdadeira dimensão do seu medo e a sua incapacidade de agir vai empurrá-lo para uma espiral de problemas em que o terror se tornará cada vez mais intenso.
Em parte romance e em parte ensaio sobre as origens do medo, este é um livro que, quer através das suas reflexões, quer nos seus acontecimentos por vezes surreais, se entranha na mente do leitor como um pensamento perturbado. Começando por explorar pequenas coisas, breves cedências para evitar conflitos, cedo o medo toma posse de todas as circunstâncias, criando em seu redor uma teia de mentiras para evitar admitir a realidade. E é este aspecto que é intensamente abordado neste livro, intercalando o enredo principal com diversas reflexões acerca dos inúmeros possíveis medos: desde o roubo, à extorsão e passando inclusive pela tortura.
Apesar de um ritmo um pouco lento, em grande parte devido ao forte conteúdo de reflexão incluído neste livro, O País do Medo acaba por se tornar, de uma certa forma, viciante, e isto deve-se ao facto de, por entre pensamentos que, inconscientemente, nos perturbam, damos por nós a tentar imaginar o que irá acontecer a seguir entre Carlos e o seu antagonista. Além disso, entre toda a diversidade de medos abordados nesta obra, haverá, certamente, algum que nos seja familiar e que, por isso, criará um elo de identificação e de empatia. Além disso, a forma como o acréscimo de medidas de segurança se torna numa espécie de incentivo ao medo acaba por reflectir um aspecto da realidade em que a ocultação dos medos não os afasta mas intensifica.
Não é uma leitura fácil. Existe um lado negro muito forte na forma como o autor nos apresenta o poder do medo e não há eufemismos para o disfarçar. Ainda assim, na minha opinião, é um livro que tem muito para transmitir e que, da sua forma perturbadora, se entranha nos nossos pensamentos. Gostei.

1 comentário:

  1. Todos nós temos os nossos medos, uns mais irracionais que outros. Eu também tenho os meus e é com grande curiosidade que olho para este livro. Vou adicionar à minha (cada vez mais extensa) lista.

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