segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Pintor de Sombras (Esteban Martín)

Pablo Picasso é um jovem apaixonado... por uma prostituta. Mas, enquanto o jovem descobre a sua identidade como pintor, enquanto ele os amigos divagam por entre os bares e prostíbulos da Barcelona que se tornou na sua casa, há um assassino à solta e os seus métodos são demasiado familiares aos do lendário Jack, o Estripador. É uma sombra, o culpado de tão atrozes mortes, uma sombra que está decidida a incriminar o jovem pintor e a, mais uma vez, desaparecer sem deixar rasto. Mas o auxílio de um famoso detective consultor é requerido. E este, que já no passado deixou escapar o seu infame adversário, está decidido a tudo fazer para conseguir justiça.
Há várias linhas essenciais que se cruzam ao longo do enredo deste livro: a história de Picasso enquanto jovem, a história dos novos crimes do suposto Jack, o Estripador e a investigação de Steven Arrow, com todos os elos que este novo caso estabelece com o seu passado. E há pontos de interesse em cada uma deles, ainda que, num ou outro aspecto, fique a sensação de que mais haveria a dizer. Pablo, com o seu carácter irascível e ferozmente determinado, não é exactamente o tipo de personalidade que desperte empatia, mas, à medida que os acontecimentos o parecem comprometer, há algo de preocupação que vai sendo instilada no leitor. Já Steven Arrow, com os seus paralelismos com o famoso Sherlock Holmes (que, neste livro, será uma personagem fictícia inspirada em Arrow) cativa pelas diferenças entre Arrow e a personagem de Conan Doyle. Arrow é um indivíduo bem mais acessível, com as marcas de uma vida atribulada. E estas diferenças são particularmente notórias devido a alguns momentos bastante semelhantes aos primeiros passos do mítico detective, sendo inevitável a comparação entre o momento em que Sherrinford e Arrow se conhecem e o primeiro contacto entre Watson e Sherlock. Até a abordagem ao caso de Jack, o Estripador evoca elementos bastante interessantes, principalmente no que respeita à possibilidade do referido assassino ser uma figura demasiado importante para enfrentar a justiça.
A leitura é envolvente, com capítulos pequenos e sem demasiados elementos de descrição, numa história que se quer cativante e centrada nas acções. Há, ainda assim, uma boa medida de caracterização, que funciona como uma mais valia num enredo onde tantas figuras - reais ou fictícias - são já bem conhecidas de outras obras literárias. E é também esta caracterização a fazer com que, mesmo nos momentos em que as coisas parecem ser algo abruptas, o interesse em seguir a evolução dos acontecimentos permaneça constante.
Cativante, com uma boa história, onde o misterioso e o peculiar se juntam para criar uma série de acontecimentos intrigantes, mas onde há também pequenos momentos que propiciam à reflexão. Porque entre as vítimas de Jack e a possibilidade de este ser um homem demasiado acima do comum mortal para ser sequer acusado, fica sempre a pergunta no ar. Seria aceitável ver no estatuto social uma medida para o valor da vida humana?

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