sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Eterno Efémero (Urbano Tavares Rodrigues)

Da história de um homem que, na sequência de uma estranha relação com quatro mulheres, acaba por morrer em circunstâncias estranhas, e também do inspector que leva a cabo a investigação dessa morte, trata este livro. Em parte romance de mistério, em parte reflexão sobre o quotidiano e sobre a busca de momentos memoráveis, em parte ainda reflexão sobre o domínio e a submissão nas relações, este é um livro que conjuga uma multiplicidade de aspectos, moldando-os num interessante equilíbrio.
Conjugando tantos aspectos numa história que é, afinal, relativamente curta, seria de pensar que algumas coisas ficassem por dizer, mas, na verdade, não é isso que acontece. No que toca ao mistério, o autor constrói a história de forma cativante, moldando-a como um muito bom ponto de partida para os outros aspectos da narrativa. Da interacção entre o inspector e os suspeitos, surge um lado mais introspectivo, quer sobre motivações para o crime, quer sobre as razões da própria relação. Desta surge, por sua vez, um toque de erotismo, relacionando-o, em certa medida, com a busca de algo mais, fugaz, talvez, mas capaz de dar alento a longos tempos de vida. E, entre as conversas com os suspeitos, as reflexões mais pessoais do próprio inspector e, por fim, o surgir da revelação, há fragmentos do quotidiano de muitos, das coisas boas e das coisas más que ficam esquecidas, que marcam, mas não o suficiente para aparecer nas notícias.
Pausado e introspectivo, mas estranhamente envolvente e com uma escrita belíssima, este é um livro que surpreende tanto pela história (ou histórias) que conta como pela forma como estas são construídas, base para pensamentos e sentimentos, numa visão que é, ao mesmo tempo, filosófica e emocional, onde a vida, nas grandes e nas pequenas coisas, é, ainda e sempre, o verdadeiro foco. Muito bom.

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