quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sepulcro (Kate Mosse)

1891. Na sequência de alguns problemas que não consegue explicar, Anatole Vernier e a irmã, Léonie, chegam a Rennes-les-Bains para passar algum tempo na tia. Mas o que parece ser apenas um convite inocente e oportuno é bastante mais que isso. O Domaine de la Cade esconde mistérios e lendas sombrias e as próprias razões de Anatole são mais vastas que a simples necessidade de uma fuga aos problemas. Diz-se que, naquele lugar, há um sepulcro antigo onde o demónio ronda, à espera somente de ser invocado. E, enquanto o mistério intriga Léonie, o inimigo, Victor Constant, segue os passos de Anatole, em busca de vingança pelo que este lhe roubou. O mistério adensa-se... e prolonga-se até mais de um século mais tarde, altura em que Meredith Martin chega, também, ao Domaine de la Cade, em busca de respostas para o mistério na história da sua mãe biológica.
Algo que parece ser característico dos livros desta autora é a sua forte componente descritiva. Os cenários são caracterizados até ao mais ínfimo pormenor, quer no respeitante à paisagem e as características dos lugares, quer aos detalhes de objectos e edifícios. A isto junta-se também o desenvolvimento pormenorizado das divagações e pensamentos das personagens, acompanhadas de tudo o que observam cada vez que chegam a um lugar novo. Escusado será dizer, portanto, que esta é uma narrativa de ritmo pausado, em grande medida devido à muito detalhada caracterização. E isto tem um lado positivo, na medida em que permite uma visão claríssima do ambiente em que decorre a narrativa, e um lado negativo, já que os excessos descritivos atenuam, por vezes, a intensidade de alguns dos momentos mais relevantes.
Mas há outra razão para que o ritmo seja lento, e esta está na forma como a autora cruza diferentes histórias num todo bastante complexo. Não apenas as histórias separadas no tempo de Léonie e Meredith, mas a forma como cada uma delas lida com vários mistérios em simultâneo: Léonie com os mistérios do sepulcro, os segredos de Anatole e Isolde e a ameaça de Victor Constant, Meredith com a sua missão oficial de escrever a biografia de Débussy, a sua busca por respostas para o passado da sua família e a situação complicada de Hal. No meio de tudo isto, e ainda que seja o Sepulcro o elo comum entre as duas histórias, a sua importância acaba por se tornar relativamente discreta, sendo as outras questões, muitas vezes, que passam para primeiro plano. O resultado é uma aura de mistério que paira ao longo de todo o enredo, mas que deixa também a sensação de alguma dispersão entre demasiadas situações.
Apesar da lentidão no fluir da narrativa, a história não perde totalmente a envolvência. Personagens cativantes, com as quais é fácil sentir empatia nos momentos de maior intensidade, momentos de particular tensão e uma boa medida de mistério contrastam com os momentos mais parados, mantendo viva a curiosidade em saber de que forma se resolverá o enigma do sepulcro e das cartas. Além disso, há uma beleza cativante na forma como a autora escreve, e isto aplica-se tanto às descrições como à narração dos acontecimentos. Também isto contribui para que, mesmo quando a intensidade da acção parece atenuar-se sob o peso da descrição, a história continue a ser intrigante e a leitura agradável.
Este é, pois, um livro que, longe de ser de leitura compulsiva, cativa pela beleza da escrita e do ambiente apresentado, bem como pelo mistério em torno das personagens e dos acontecimentos em que estas se vêem envolvidas. Um livro interessante, portanto, e que gostei de ler.

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