sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Morte em Veneza (Thomas Mann)

Gustav von Aschenbach é um escritor conceituado, a quem o seu país dedica o maior reconhecimento, mas que se sente inquieto. Decide, por isso, partir numa viagem, na esperança de aquietar o desassossego e retomar a dedicação à sua obra. O seu caminho leva-o a Veneza. E, no hotel onde se instala, os seus olhos pousam pela primeira vez no adolescente que se tornará a sua obsessão. Contemplando à distância o jovem Tadzio, Aschenbach sente-se instado a permanecer. Mesmo quando todos os turistas começam a partir e as medidas de prevenção da saúde pública insinuam a existência de um perigo que ninguém quer assumir.
Sendo este um livro tão curto, algo que, desde logo, surpreende, ao iniciar a leitura, é a forte componente descritiva. Na verdade, a descrição - dos cenários, do mundo observado por Aschenbach, das suas meditações - é o elemento essencial do livro. A viagem decorre com poucos incidentes, ainda que os que ocorrem sejam bastante interessantes, e o mesmo se aplica à estadia. Há pequenos mistérios a surgir, mas que rapidamente - e, por vezes, sem respostas - desaparecem. E o próprio Aschenbach é, quase sempre, apenas um observador, meditando sobre a sua vida, sobre o que contempla, e, depois, sobre o jovem Tadzio, mas sem grandes gestos ou acções marcantes. Não há propriamente grandes momentos na narrativa, mas antes um rumo de lenta degradação que, aliada à aparente passividade do protagonista, define, inevitavelmente, um tom lento e introspectivo, que permanece ao longo de todo o livro.
O que mais cativa, no fim de contas, é mesmo a escrita. Se é verdade que os acontecimentos essenciais do enredo perdem destaque ante as muitas reflexões e divagações, também é certo que a forma como estas são escritas é brilhante. A forma como Aschenbach encara a sua vida e a sua obra apresenta muita matéria para reflexão, e o autor desenvolve-a numa escrita bela e fluída que, mesmo nos momentos mais densos, acaba por dar algo de cativante à leitura. Além disso, e tendo em conta a forma como tudo termina para Aschenbach, a sua inquietude, prévia à viagem ou resultante aos acontecimentos a ela associados, acaba por se reflectir de forma particularmente precisa nesse tom introspectivo e, por vezes, um pouco confuso com que o autor desenvolve as suas meditações.
Não é, portanto, uma leitura fácil. As longas descrições e reflexões, ainda que construídas com mestria, aliadas a um enredo onde as paragens são tão importantes como os acontecimentos, definem para este livro um ritmo lento e um tom divagativo. Há, ainda assim, bastante de bom para descobrir, quer na beleza da escrita, quer na expressão de alguns pontos de vista particularmente interessantes. E isso basta para que valha a pena ler este livro.

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