domingo, 24 de fevereiro de 2013

As Histórias de Terror da Entrada do Túnel (Chris Priestley)

Robert mal pode esperar para entrar no comboio que o levará rumo ao seu novo colégio - e para longe da madrasta, que acha extremamente irritante. Mas a viagem, que começa por ser completamente normal, muda, repentinamente, após alguns momentos de sono. Ao despertar, Robert apercebe-se de que o comboio parou à entrada de um túnel e que há uma nova ocupante no seu compartimento: uma mulher vestida de branco, que se recusa a dizer-lhe o seu nome, por mais vezes que pergunte, e que parece ter um gosto especial em contar histórias assustadoras... 
Um dos muitos pontos fortes deste livro é a estrutura, comum, aliás, a outros livros deste autor. Constituído por várias histórias, a maioria delas perfeitamente independentes, há, ainda assim, neste livro, uma unidade, estabelecida tanto pela história de Robert e da sua contadora de histórias, quer pelo elemento misterioso que parece insinuar-se em todas as histórias, sendo completamente definido apenas na conclusão da última. É fácil, por isso, captar plenamente a envolvência de cada conto, enquanto história individual, mas também reconhecê-lo como parte de um todo maior, em que todas as histórias têm algo que as liga, de forma mais ou menos evidente, ao acontecimento principal que é a viagem de Robert. E há ainda uma outra ligação, breve e discreta, a evocar o misterioso Tio Montague (de As Histórias de Terror do Tio Montague, claro), criando um sentido de união que não surge apenas entre as histórias deste livro, mas entre os vários livros.
Mas esta ligação entre as histórias não é a única qualidade deste muito interessante livro. Há também a escrita, directa e relativamente simples, mas que transmite na perfeição o ambiente sombrio - e, por vezes, um pouco melancólico - das diferentes histórias. E o enredo propriamente dito, já que cada conto reúne todas as características necessárias a uma leitura cativante: personagens interessantes, com traços de personalidade - e formas de agir - bastante adequadas ao contexto em que se encontram, e um bom desenvolvimento dos elementos de mistério e de horror, resultando, muitas vezes, numa conclusão surpreendente.
Ainda que não seja tão evidente como noutros livros do autor, também aqui surge, em contraste com os elementos mais sombrios das histórias, o inevitável toque de nostalgia, presente principalmente na história de Robert. Nostalgia que, aliada a algum conhecimento adquirido ao longo da sua viagem, torna o final dessa história um pouco mais marcante, já que além das necessárias revelações, surge também uma certa - e, de certa forma, inevitável - mudança nas percepções de Robert, mudança que contrasta com as menos virtuosas características das personagens apresentadas pela Mulher de Branco.
Trata-se, pois, de mais um livro viciante, com um conjunto de histórias cativantes em que o misterioso e o macabro se conjugam com algo de mágico e um toque de melancolia. Surpreendente, intrigante e estranhamente fascinante, corresponde em pleno às expectativas de quem leu os outros livros do autor. Uma delícia de livro, portanto. Recomendo sem reservas.

Sem comentários:

Enviar um comentário