Nora nunca superou completamente aquilo que lhe aconteceu dez anos antes, mas conseguiu construir uma vida para si - solitária, mas bem sucedida. É, por isso, com espanto que recebe o convite para a despedida de solteira de Clare, uma amiga de infância que não vê desde esse tempo. A festa deverá durar um fim de semana inteiro e terá lugar numa casa de vidro isolada em plena floresta. Mas o que deviam ser uns dias de diversão entre amigos - ainda que aceites com relutância - cedo se revela como uma escalada de tensões e de revelações dolorosas. Que se encaminha para algo de ainda mais grave...
Uma das primeiras coisas a cativar para este livro é a aura de mistério, que se sente desde muito cedo, com o enigma do convite inesperado e das suas motivações, e se prolonga até aos capítulos finais de uma história em que não só o ambiente se vai revelando sempre um pouco mais sinistro, mas também o que move as personagens. Mistério esse que não vive só das grandes revelações - e há uma grande e maquiavélica revelação à espera na fase final do enredo - mas também de pequenas coisas, como a relação de Clare com as amigas do passado, aquilo que aconteceu a Nora e que ela não consegue superar e até mesmo as pequenas discussões que vão acontecendo ao longo do fim de semana na casa de vidro.
Para esta aura de mistério, e para a consequente intensidade do enredo, contribuem também as características das várias personagens e a forma como estas moldam as interacções entre elas. O segredo de Nora, a obsessão de Flo, o temperamento de Nina... Tudo serve para proporcionar momentos de tensão, que, além de despertarem desde muito cedo a sensação de que algo vai correr mal, levantam suspeitas quanto a possíveis explicações para alguns dos acontecimentos posteriores.
E tudo isto é contado pela voz de Nora, que, além de estar entre os envolvidos no que aconteceu na casa de vidro, está, em consequência disso mesmo, a lidar com algumas falhas de memórias. Isto torna a narrativa mais pessoal, transportando para a história as dificuldades de Nora em recordar-se e as dúvidas sobre se a sua versão dos factos - ou da parte que recorda dos factos - é ou não inteiramente real. E, além disso, torna tudo mais intenso, pois a sensação de descobrir a verdade ao mesmo tempo que a protagonista reforça também o impacto das últimas revelações.
Intrigante, misterioso e intenso, este é, pois, um livro que cativa desde muito cedo e não para de surpreender até ao fim. Com várias personalidades fortes, um enredo muitíssimo interessante e todo um percurso de surpresas e revelações para percorrer, uma história que fica na memória. E, por tudo isto, um livro muito bom.
Título: Numa Floresta Muito Escura
Autora: Ruth Ware
Origem: Recebido para crítica
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