segunda-feira, 23 de maio de 2016

Para Lá de Bagdad (Alberto S. Santos)

Vivem-se tempos de mudança em Bagdad. O califa é um homem influenciável e há duas facções cujas divergências parecem tornar-se cada vez mais violentas. Ahmad ibn Fadlan conta-se entre os que acreditam no valor da sabedoria e do conhecimento. E é também isso, além da necessidade de adiar um pouco mais o destino que o tio lhe parece reservar, que o leva a oferecer-se como voluntário para uma missão perigosa: partir como embaixador do califa ao rei dos Búlgaros do Volga, que precisam da orientação - e do dinheiro - do Comandante dos Crentes. A viagem, contudo, prevê-se cheia de perigos e nem todos os que o acompanham são de confiança...
Um dos aspectos mais cativantes deste Para Lá de Bagdad, e também um dos primeiros a destacar-se, é a forma como o autor consegue, sem nunca perder de vista a linha dos acontecimentos, caracterizar cenários tão distintos e tão complexos. Há vida em cada um dos locais por onde Ahmad passa, e toda uma vastidão de particularidades que só se tornam mais vivas pelo facto de, em cada palavra, se sentir a mesma impressão de espanto que caracteriza as percepções do protagonista.
O que me leva a outro ponto forte. É que Ahmad pode não ser uma personagem perfeita. É, aliás, mais cativante por isso mesmo. Mas há algo de muito carismático na forma como Ahmad encara as suas circunstâncias, sejam elas a de aprendiz dedicado ao conhecimento, de embaixador em circunstâncias delicadas ou simplesmente de um homem que ama e procura a amada perdida. Tal como os cenários, também as personagens ganham vida, e é isso, provavelmente, que mais contribui para fazer com que o enredo nunca deixe de ser envolvente.
Ficam algumas perguntas em aberto, principalmente relativamente a alguns acontecimentos que parecem ser descritos de forma demasiado sucinta para a influência que têm naquilo que se seguirá. O mesmo acontece também no final, que deixa em aberto uma grande questão relativamente a Astrud e Zobaida. E, assim sendo, fica também uma sensação de curiosidade insatisfeita, como que de uma parte interessante da história que é deixada por contar. Não é propriamente um elemento fundamental, o que significa que a história continua a ser completa em todas as suas facetas mais importantes. Ainda assim, teria sido interessante saber um pouco mais.
Com um protagonista carismático, uma história envolvente e uma escrita que dá vida até aos mais pequenos pormenores, a impressão que fica, portanto, deste livro é a de uma viagem muito cativante e na qual, apesar de nem todas as respostas estarem presentes, é possível encontrar muitos motivos de fascínio. Uma boa história, portanto, e definitivamente uma boa leitura.

Autor: Alberto S. Santos
Origem: Recebido para crítica

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