Enquanto reputado detective do paranormal, Dylan Dog está habituado a fenómenos estranhos. O que não lhe parece vulgar é que o seu fiel amigo e assistente esteja a comportar-se de forma... normal. Mas tudo ganha outra perspectiva com a entrada em cena de Marina, a sua paixão de juventude que, sem saber como, foi parar à porta de Dylan e precisa que ele a acompanhe a casa. Dylan não sabe bem o que se passa, mas a força das memórias não lhe permite hesitar. E a viagem de regresso ao passado, cheia de estranhezas e de memórias, esconde já uma verdade difícil... mas que é preciso aceitar.
Há algo de absurdamente fascinante na forma como a história de um protagonista que dedica grande parte da vida a investigar monstros e fenómenos bizarros consegue ser tão natural e familiar. Mais do que a estranheza dos acontecimentos - que são estranhos, entenda-se, mas que fluem também com uma naturalidade incrível -, marca a profundidade dos sentimentos e a complexidade de emoções e laços que ficaram no passado, mas prevalecem. Além disso, esta intensidade emocional cria um curioso contraste com a leveza dedicada aos momentos da juventude, um contraste que é também visual, mas que é, acima de tudo, emotivo.
Estranheza não falta, como é óbvio, desde a estrada deserta ao singular parque de diversões, passando pela arma vinda do nada e pelo omnipresente galeão. E há dois pontos a destacar acerca deste aspecto: primeiro, a intensidade das imagens que, moldadas sobretudo em contrastes de luz e sombra, dão a esta viagem... no tempo... um tom onírico que se lhe adequa na perfeição. Depois, os laços discretos, mas sempre tangíveis, que vão unindo as diferentes histórias. Cada episódio é um todo independente, mas a personagem é mais do que isso, e estes elos de ligação realçam fortemente a magia de cada reencontro.
E Dylan Dog... bem, Dylan Dog é apaixonante, com o seu passado cheio de mistérios, a melancolia que, a cada nova revelação, se vai tornando mais compreensível e uma expressividade absurda no olhar. É uma personagem enigmática, mas capaz de despertar profunda empatia, e é precisamente isso que o torna tão especial.
Um Imenso Adeus ao passado... e um belíssimo reencontro com as memórias. É essa a imagem que fica deste livro, melancólico e belo, mas com deliciosos rasgos de leveza a contrapor às sombras que nele se agitam. E um enigma, sempre... da matéria do improvável, mas delicioso de decifrar.
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