domingo, 29 de novembro de 2020

O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo (Charlie Mackesy)

Um menino que aspira a chegar a casa. Uma toupeira que gosta de bolo. Uma raposa que acha que tem pouco para dizer. E um cavalo surpreendentemente sábio. Quatro amigos improváveis partem para explorar o mundo, partilhando afectos e dúvidas, perguntas surpreendentemente profundas e segredos tão impossíveis que se tornam naturais. E, por entre descobertas e tempestades, procuram descobrir a amizade e a esperança. E que casa não é apenas um lugar. É amor.
Há algo de absurdamente belo e fascinante na forma como este livro consegue ser ao mesmo tempo simples e indescritível. Simples na linguagem, na brevidade, na forma como ilustrações e imagens se conjugam para dizer em poucas palavras o que é verdadeiramente essencial. (E já em O Principezinho, com que este livro é acertadamente comparado, se dizia que o essencial é invisível aos olhos.) Indescritível precisamente por isso: porque o essencial está lá e é tão profundo e tão belo que, mais do que à mente racional, fala ao coração - e a parte de nós, sobretudo, que aspira a ser amada.
É também uma espécie de força profunda, pois todas as questões são certeiras. E é por isso que, embora à primeira vista possa parecer um livro infantil, não o é. É mais do que isso. É o tipo de livro que facilmente se entranha nos pensamentos e emoções de leitores de todas as idades. E isto é ainda mais impressionante porque - mais uma vez - tudo parece muito simples. Nem há sequer uma história, pelo menos no sentido linear da palavra. Há uma passagem pelo mundo - e o que é a vida senão isso? - com todas as descobertas que isso implica. E tempestades, voos, armadilhas, momentos de solidão, amizade e amor. Porque, mais uma vez, o que é a vida senão isso?
Parece composto sobretudo por impressões. Impressões de um pensamento que se forma, e que é partilhado com os amigos. De um gesto que se torna natural ao ser também dividido. De uma contemplação interior feita de coisas simples que se tornam vastas. É inocente, sobretudo, na sua improbabilidade. Mas lembra ao mesmo tempo que tudo é possível e que a vida é difícil ("...mas és amado") e também as tempestades passarão.
Simples, mas indescritível: indescritivelmente belo, sobretudo. E feito de impressões certeiras, de emoções profundas, de uma proximidade que não se sabe bem de onde vem, mas que fica connosco bem depois de terminada a breve leitura. Para ler e reler, por e a gente de todas as idades. E reflectir também um pouco nesse tão inefável - e invisível - essencial.

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