terça-feira, 2 de março de 2021

Sete para a Eternidade - Livro Um (Rick Remender, Jerome Opeña, James Harren e Matt Hollingsworth)

A honra e o orgulho de um pai destinado a manter a nobreza em tempos de veneno e sussurros fizeram dos Osidis uma família de proscritos. Ainda assim, exilados longe do mundo, viveram durante anos longe de uma guerra que não lhes pertencia. Mas isso acabou. O Deus dos Sussurros encontrou-os finalmente e, se o patriarca dos Osidis se recusa a ouvir a sua proposta, então tem de morrer. Resta o filho, a quem sobra também pouco tempo, e que tem uma família para proteger. Adam Osidis dirige-se, pois, à boca do lobo, sem saber bem se a sua intenção é matar o Deus dos Sussurros... ou romper com tudo o que lhe foi ensinado e ouvir a sua proposta.

De longe o aspecto mais notável deste livro - que é todo ele bastante impressionante - é a forma como apresenta todo um mundo de estranheza, mas repleto de uma proximidade perturbadora. Desde o Deus dos Sussurros (que molda o mundo com as suas mentiras) ao mercenário disposto a tudo por ouro, passando pelos que estão dispostos a tudo sacrificar em nome de um suposto futuro previsto, há em todos os estranhos elementos deste livro fortes paralelismos com o mundo real. O Deus dos Sussurros manipula através do medo, do incentivo ao ódio pelos outros, da manipulação dos desejos e das aspirações. E, se olharmos para o nosso mundo, vemos os mesmos sussurros, ainda que com formas diferentes.
E tudo isto é próximo, mas tudo o resto é novo. Os poderes das personagens, o tipo de influências que comandam a vida e a morte, os locais por onde as personagens passam e a forma visível como as suas escolhas se manifestam tornam este mundo extremamente complexo, apesar dos evidentes elos de ligação. Mas, em parte devido ao impacto emocional, que é fortíssimo, e em parte também devido à sensação de proximidade (porque o mundo pode ser novo, mas os sentimentos - bons e maus - são universais), é absurdamente fácil mergulhar de cabeça nesta história e impossível parar de ler antes do fim. Fim esse que é relativo, pois trata-se apenas do primeiro volume, mas é também extremamente adequado tendo em conta o percurso até este ponto.
Visualmente falando, destacam-se dois aspectos: a forma como as peculiaridades dos diferentes cenários e personagens realçam a estranheza deste mundo, com visões aterradoras como a do flautista a contrastar com o brilho incandescente do disparo dos pregos, para citar apenas um exemplo; e a expressividade das feições, que além de ser um reflexo perfeito do que move as personagens, realça a intensidade do que sentem (de bom ou mau).
Estranho, mas absurdamente próximo, complexo, mas absurdamente viciante, e ambíguo, mas avassalador na sua intensidade: assim é este primeiro volume de uma história cheia de emoção e de surpresas... e que promete ainda mais para a parte que falta descobrir. Cheio também de estranheza e de uma proximidade impressionante, um livro que não posso senão recomendar.

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