Celestial (Cynthia Hand)

Clara é uma sangue-de-anjo. E quando a visão de um acontecimento distante lhe invade os pensamentos, ela sabe que encontrou o seu propósito e que a sua vida vai mudar. Mas o propósito - a sua missão celestial e suposto sentido da vida - não é claro. Tudo o que tem é aquela visão estranha como início de uma mudança brusca e absoluta. Nova casa, novo ambiente, novos amigos... e novos interesses. Porque Christian, o rapaz da sua visão, deveria ser o centro dos seus pensamentos, mas há mais em seu redor para a distrair.

Leve e envolvente, este é um daqueles livros que praticamente se devoram. Com uma escrita acessível e uma linha de acontecimentos interessantes, há na história de Clara muito para descobrir. E o ponto alto está, mais que na concretização do seu propósito, na forma como os elementos associados aos seres angelicais são apresentados. A classificação segundo os poderes e a pureza de sangue, a aprendizagem progressiva das capacidades, a peculiar forma de reconhecimento dos anjos caídos (ou uma delas) e até a forma como Clara e Angela descobrem - por vezes, contra a vontade de outros - novos aspectos da sua natureza, formam um sistema que, ainda que não tenha sido completamente explorado neste primeiro livro, parece ter muito potencial.

Um outro aspecto particularmente cativante é o sentido de humor, evidente principalmente nas aulas dedicadas à História das Ilhas Britânicas, onde tanto o próprio método de ensino do professor como a reacção dos alunos dão azo a momentos deveras divertidos.

Claro que existem alguns elementos comuns a outros livros enquadrados neste género. Aqui, destaca-se o clássico triângulo amoroso, em que tanto Christian como Tucker têm os seus pontos positivos de personalidade (e as suas surpresas especiais), mas que, inicialmente, parece surgir apenas para complicar um pouco mais a vida de Clara. Esta sensação de algo inicialmente forçado, contudo, desaparece com o posterior desenvolvimento da relação de Clara com os dois rapazes, criando momentos divertidos e emotivos, para além de relevantes para o evoluir do enredo.

Cativante e descontraído, este é um livro que, apesar do muito que deixa em aberto (e aqui são de destacar as muitas interrogações relativas à mãe de Clara), surpreende pela interessante abordagem aos possíveis poderes dos anjos, mas principalmente pela envolvência de uma leitura leve e que entretém.