Os vegetarianos e os nudistas. Os cães e os escritores vivos. Os telefones, o silicone e o socialismo. As raparigas demasiado magras. O Benfica. As mulheres infiéis. O cinema fantástico, os anos 80 e a bem-aventurança em geral. Joel Neto parece coleccionar inimigos ao mesmo ritmo a que vai escrevendo. E, no entanto, garante que tem coração – e que, no limite, até é capaz de comover-se. Neste volume reúnem-se as obsessões e os ódios, os delírios e os afectos daquele que é, hoje, um dos principais cronistas portugueses. Um livro que se lê como quem ouve um disco. A caminho de casa.
«Um casamento pode sobreviver a um homem infiel e pode sobreviver a uma mulher infiel também. Coisa diferente é o amor. Um homem pode ser
infiel à sua mulher e, no entanto, amá-la eterna e incondicionalmente. Uma mulher infiel já não ama o seu marido.»
«Para que serve um cão? Para que serve um bicho completamente estúpido, tantas vezes agressivo, que cheira mal, que ladra alto, que nos rouba duas horas por dia só por causa do cocó – e que, além de tudo, volta e meia está obstipado, fazendo-nos andar, não duas, mas quatro horas a subir e a descer a rua com um saquinho de plástico na mão?»
«Já não gosto de futebol. Deste futebol. O meu futebol é o futebol dos golos de bandeira e dos penáltis roubados, dos copos pela noite dentro e das zaragatas à segunda-feira de manhã. No meu futebol, vivem-se o ódio e o amor em doses iguais – e, quando alguém nos pergunta se é loucura o que isso é, nós erguemos bem alto o copo e citamos Goethe (não citamos nada) e bebemos a Bruno Paixão.»
Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou livros de ficção, de crónica e de reportagem, mas diz ver-se a si próprio sobretudo como um «escritor de jornais». Escreveu em quase todos os grandes jornais portugueses, ganhou vários prémios de reportagem e vem desenvolvendo há mais de vinte anos intensa actividade como cronista. O seu livro O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas (contos, 2002) foi adoptado como leitura obrigatória pela Universidade dos Açores. O volume anterior, O Terceiro Servo (romance, 2002) foi alvo de estudo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no Brasil. Esta é uma selecção das suas melhores crónicas, a maior parte delas publicadas na coluna Muito Bons Somos Nós, distribuída com os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias.
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