quarta-feira, 9 de março de 2011

A Rainha dos Malditos - volume II (Anne Rice)

Akasha despertou do seu torpor milenar. E tem um plano, um objectivo ambicioso para mudar o rumo do mundo e das vidas humanas. Espera ter a seu lado o imortal que a despertou, o poderoso e intempestivo Lestat. Mas, enquanto os sobreviventes da vontade da rainha se reúnem no sentido de encontrar uma forma de deter as ambições de Akasha e um passado que se tornou lenda é finalmente vislumbrado na sua verdadeira forma, também Lestat se revela incapaz de compreender os planos da sua consorte. E não está na natureza de Akasha aceitar qualquer resistência aos seus decretos.
Há um novo rumo nesta segunda metade da história. Apesar de ser aqui que a voz de Lestat volta a fazer-se ouvir enquanto narrador, este continua a ser um elemento secundário na grande trama. Aqui, é entre Akasha e Maharet que se dividem os principais focos de atenção, sendo na história desta última que se apresenta o grande ponto alto do livro. Um percurso duro, onde poderes sobrenaturais parecem adquirir uma força devastadora, mas onde o sofrimento pessoal das lendárias gémeas é, ao mesmo tempo, base para o acidente que daria origem aos vampiros e para a criação de uma grande família, tão vasta que poderia representar toda a humanidade.
É, na verdade, na visão global do mundo e das suas mudanças que se encontra a maior força, a nível de reflexão, desta história. Nas ambições de Akasha, intoleráveis, mas não inerentemente malévolas - afinal, não é o sonho da rainha o de um mundo mais belo? - há uma pergunta insinuada. Quanto seria tolerável para moldar o rumo do mundo e as vontades humanas no sentido de um objectivo? E, no conflito de vontades entre a rainha e os seus descendentes, da possibilidade de imposição de uma vontade (com todos os sacrifícios associados) em nome de um objectivo, por mais louvável que se possa considerar, surge afinal uma visão de um mundo onde bem e mal não são conceitos lineares e facilmente definidos, onde o que é aceitável varia segundo os olhos de cada um, por mais poderoso que seja.
Ainda de referir que, apesar do destaque dado à história de Maharet e, claro, de Akasha, todos aqueles sombrios indivíduos que têm vindo a cativar aqui estão presentes em toda a sua glória. Marius reflecte-se no seu mais vulnerável, no mais intenso e mais belo da sua humanidade, tão mais clara pelos evidentes sentimentos que nutre para com o favorito da sua progénie. E Lestat... Lestat surge igual a si próprio, intempestivo, teimoso, capaz de violar todas as regras e com uma ilimitada capacidade de amar. Profundamente humano, em suma, como sempre surgiu até aqui.
Intenso, sombrio, uma leitura envolvente, mas com os seus momentos de profundidade e de necessária reflexão. Um livro que apresenta o melhor e o pior na ambiguidade da natureza humana. Mesmo quando reflectida nas menos humanas de todas as criaturas.

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