quarta-feira, 2 de março de 2011

Oblívio (Filipe Faria)

O fim aproxima-se. Na complicada situação em que os companheiros desta longa aventura foram deixados no final do volume anterior, tudo indica que a esperança é ténue e torna-se quase impossível vislumbrar uma forma de impedir os planos de Seltor. Mas há ainda grandes revelações à espera de surgir e o caminho está longe de terminado. Aqueles que parecem perdidos talvez não o estejam. E até a vontade das forças superiores pode ser diferente daquela que os humanos têm como certa.
Há algo de bastante diferente neste livro, apesar das características em comum com o restante desta saga. Descrições detalhadas, batalhas extensas e apresentadas ao pormenor e uma linguagem por vezes bastante elaborada são elementos que se têm vindo a destacar progressivamente ao longo destas Crónicas e não estão ausentes deste livro. Existem, contudo, algumas circunstâncias que marcam com uma certa estranheza o evoluir dos acontecimentos, quer devido a algumas mudanças no carácter e nos planos de determinadas personagens, quer na ausência de outros que, no decorrer desta longa história, foram uma importante parte da sua alma.
Não se pode dizer que haja um ritmo compulsivo nesta leitura, principalmente devido às extensas descrições, mas também, julgo, devido a uma flagrante ausência de uma das mais marcantes personagens da saga. Aewyre, enquanto herói e enquanto figura em crescimento (da quase excessiva descontracção a uma culpa perto do insuportável) está inevitavelmente em segundo plano durante a vasta maioria deste livro e, tendo sido ele o interveniente principal em vários dos momentos mais emotivos da saga, é inevitável a sensação de que algo se perde com a sua (necessária) ausência. Além disso, as grandes revelações acabam por estar ligadas a uma considerável mudança de planos (no caso de Seltor), de questões de fé (no caso de Quenestil) e até mesmo de personalidade (em ambos).
Assim, os momentos mais intensos do livro acabam por estar, em grande parte, guardados para uma fase muito final. É por volta das últimas cem páginas que o lado sensível, que apela à emoção do leitor, volta a manifestar-se e que as tais mudanças que parecem provocar estranheza acabam por fazer sentido. E é também nesses pequenos momentos, longe do confronto, mas mais ligados a cada personagem individualmente, que reside o melhor deste livro.
Uma última nota para o final, que deixa bastantes elementos em aberto, surpreendendo pela forma como o que parece a resolução do problema deixa no ar toda uma série de perguntas para o futuro, numa porta aberta, talvez, para um retorno a Allaryia. E também uma referência à ausência de uma figura particularmente relevante no volume anterior e de quem gostaria de ter visto algo mais do seu destino. A ausência de Aereth neste livro é também uma considerável pergunta deixada sem resposta.
Um final interessante para uma longa história, deixando no ar a possibilidade de um futuro encontro com este mundo, e que, apesar dos elementos que colocam este livro um pouco abaixo de outros volumes da saga, encerra, afinal, de forma satisfatória, um longo e duro percurso de aventuras.

2 comentários:

  1. Olá :)
    Curiosamente, acabei este livro precisamente hoje de manhã.
    Devo confessar que não sou fã desta saga e este livro desiludiu-me um pouco, e algumas das razões para tal foram, também enunciadas por ti. E sinceramente, não gostei muito do fim em aberto. Era possível, na minha opinião, dar um final final à história, sem que isso impedisse um regresso às Crónicas. Mas, bem, esta é a minha opinião. Futuramente também irei fazer a minha review lá no meu blog e aí serei mais detalhada.

    :)

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  2. A batalha final é boa e as revelações feitas por Seltor valem a pena.

    Por momentos, pensei que o final seria similar a “Dragões de uma chama de Verão”, mas felizmente isso não aconteceu.

    Normalmente não desgosto dos finais em aberto, mas este não me caiu bem.

    Quanto à ausência de Aereth, tendo em conta o volume anterior fazia sentido. Fiquei muito mais incomodado por o autor ter usado pouco Tannath neste volume.

    http://cronicasobscuras.blogspot.com/

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