terça-feira, 1 de março de 2011

O Último Dia de um Condenado (Victor Hugo)

Que tormentos se poderão esconder na mente humana, entre o momento em que uma sentença de morte é decretada e o consumar da sua execução? Que pensamentos, que esperanças fugitivas, que sombras de arrependimento e sentimentos de renúncia poderão invadir a alma e o coração de um condenado? Não será a angústia da espera, a visão de um mundo em vias de abandono, uma tortura maior que qualquer fim decretado pelos seus supostamente humanos executores? É este o percurso seguido por este livro. São estas as perguntas a que pretende dar a resposta possível.
O sentimento essencial que fica da leitura desta pequena história é uma profunda angústia. E é a criar esta mesmo tormento interior que o autor provoca, com a mestria de palavras e emoções poderosas e perturbadoras, a necessidade de reflexão. Comparando possibilidades, colocando na balança possibilidades igualmente aterradoras (a morte ou as galés) e fazendo o seu protagonista reflectir, à medida que a angústia cresce, sobre qual seria a sua preferência, a mesma dúvida é instilada na mente do leitor. Ao evocar memórias de arrependimento, desolação ante o que é deixado para trás, desespero ante a certeza do inevitável, o autor apresenta ao leitor uma visão intensa, perturbadora e revoltante de um percurso até uma morte supostamente humana.
E aí que reside, afinal, a grande força deste livro. Nos pequenos episódios que pareceriam quase irrelevantes, se não fossem vistos pelos olhos de um condenado. Nas emoções deste homem, da certeza à apatia e até uma desesperada esperança. E naquela opressão de saber, mesmo perante o abismo, que não há redenção na justiça dos homens.
Intenso e devastador, na temática e na forma como esta é apresentada, este é um livro em que é quase inevitável partilhar, de certa forma, os passos da agonia do seu protagonista. E, por mais distante que se possa considerar a época onde decorre esta narrativa, por mais longínquas que possam parecer essas paragens... A caminhada em desespero que é, no fundo, a essência deste livro permanece, apesar de tudo, devastadoramente próxima.

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