quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Casa dos Primatas (Sara Gruen)

No mesmo dia em que John Thigpen, jornalista, sai maravilhado da sua visita ao Laboratório de Pesquisa da Linguagem dos Símios, o lugar é alvo de um atentado. Uma explosão, alegadamente provocada por um grupo terrorista de defesa do ambiente, destrói o laboratório, deixa uma das responsáveis gravemente ferida e leva à fuga e consequente venda dos bonobos. Mas Isabel Duncan dedicou toda a vida àqueles símios e não está disposta a desistir sem luta, principalmente depois de saber a que mãos estes foram entregues. Dedica-se, então, a uma forma de descobrir uma explicação para o que aconteceu e um meio de recuperar os bonobos, enquanto o país observa, com um misto de repulsa e fascínio, o reality show A Casa dos Macacos, e o único jornalista com quem Isabel alguma vez sentiu alguma empatia tenta lidar com os dilemas da sua vida familiar e profissional, ao mesmo tempo que procura respostas para o trabalho com os bonobos, a sua reportagem que lhe foi roubada.
Há muito de cativante para descobrir neste livro. Com uma escrita fluída e envolvente, a autora apresenta uma história que desperta curiosidade desde a primeira página e em que os acontecimentos marcantes não dizem necessariamente respeito apenas às personagens humanas. Na verdade, o equilíbrio que se estabelece entre as várias personagens, motivado em grande medida pelo que está a acontecer com os bonobos, mas também pela interacção com eles, é um dos pontos mais interessantes da narrativa. A autora descreve, de forma detalhada e completa, mas sem perder de vista o lado emocional e os pequenos momentos enternecedores, as relações descobertas entre bonobos e humanos, bem como as suas capacidades cognitivas e de aprendizagem. Desta forma, há todo um mundo novo que se revela e que, ligado aos acontecimentos mais rotineiros e aos pequenos dramas das vidas humanas, dá forma a uma história marcante, com momentos verdadeiramente comoventes. Uma leitura difícil de largar.
Os bonobos são, em muitos aspectos, as estrelas desta histórias, mas há também muito de relevante na caracterização das personagens humanas. Das figuras associadas ao laboratório, destaca-se a imensa diferença entre Isabel e Peter, com todos os segredos e mentiras a este associados e com as emoções divergentes que evocam: empatia pela dedicação sem reservas de Isabel, algo de revolta pelas manipulações em interesse próprio de Peter. Também na vida de John há sentimentos contraditórios e dilemas por resolver: a mesma revolta, mas associada às acções da sua colega de trabalho; também a sensação de algo em risco de se perder, devida às mudanças na vida de Amanda;  mas principalmente a mesma dedicação, motivada pela memória que permanece da sua visita aos bonobos e que não o deixa descansar na vontade de saber mais.
A história define-se entre algo de ambição e algo de altruísmo, entre as relações pessoais e os acontecimentos que todo o país parece estar a acompanhar. Entre humanos e bonobos, entre o que os diferencia e, principalmente, as semelhanças que os unem. Trata-se, portanto, de uma história que levanta várias questões pertinentes, quer a respeito do que separa os animais dos humanos e da forma como estes agem, quer no que toca às questões relativas às pesquisas feitas em animais, quer ainda, de forma relativamente discreta, aos preconceitos e à forma como, por vezes, estes ganham uma visibilidade exagerada. 
Cria-se, assim, uma narrativa feita de acontecimentos marcantes, mas também de um enternecedor lado emocional e com algo de importante para reflectir. A impressão global dificilmente poderia ser mais positiva. Envolvente e surpreendente, uma marcante história sobre humanos e animais e sobre aquilo que todos temos, afinal, em comum. Muito bom.

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