Gabriel Allon está, mais uma vez, ocupado com um trabalho de restauro quando a sua outra vida o chama. Um atentado terrorista que deixou um amigo entre a vida e a morte exige ao espião e assassino que regresse a um lugar onde as sombras do passado são densas e insuportáveis. Mas Gabriel não pode recusar o apelo da verdade e, por isso, regressa, mais uma vez, a Viena, para descobrir as razões para o atentado. Razões essas que se revelam bastante mais complexas do que seria de esperar e que, ao mesmo tempo que apresentam pistas para encontrar novas respostas para um dos grandes crimes da humanidade, trazem de volta ainda novos fantasmas de um passado que Gabriel conhecia apenas superficialmente.
Mais que a história da missão de Gabriel para descobrir o que motivou o atentado e, depois, para resolver as consequências da situação, é o passado o elemento mais marcante desta narrativa. Do passado de Gabriel, com as memórias que o afastam de Viena (e que são abordadas de forma algo vaga), mas principalmente do passado colectivo, dos acontecimentos do Holocausto, dos homens que protegeram os fugitivos e das verdadeiras dimensões dos aspectos menos claros. É este tema que o autor explora com maior intensidade, conferindo um lado pessoal e individual (na história de Max Klein) e uma ligação ao protagonista (no testemunho de Irene Allon), à exposição directa e perturbadora das atrocidades cometidas. Estas partes do relato ganham maior intensidade pela sempre presente percepção de que, revoltantes como são por si só, são apenas uma pequena parte de um crime infinitamente maior.
Bastariam, pois, estes momentos e a mestria com que são desenvolvidos, para fazer deste Morte em Viena uma leitura marcante. Mas o passado é apenas uma parte e, ainda que seja a razão que move todos os acontecimentos posteriores, há um presente narrativo vasto em acção e mistério para descobrir. Os passos dados por Gabriel e pelos seus aliados, bem como as medidas tomadas pelos seus inimigos, proporcionam uma narrativa cheia de intriga e suspense, com o secretismo das acções a manter a envolvência e a curiosidade em saber mais, principalmente à medida que estes passos abrem portas para novas revelações. Além disso, os principais intervenientes revelam-se no seu melhor, com particular destaque para o quase omnipresente Shamron, com a sua influência sempre maior do que parece. E, como não podia deixar de ser, há Gabriel, com a sua personalidade complexa a tornar-se mais empática pela revelação das suas fragilidades e de algumas das razões que o movem. Claro que continua a ser, em muitos aspectos, um enigma, mas os fantasmas de um passado que se revela gradualmente fazem do protagonista deste livro uma figura um pouco mais próxima, mas fácil de compreender.
Trata-se, portanto, de uma narrativa envolvente, com as medidas certas de mistério e acção, e, principalmente, com uma abordagem marcante ao passado e às marcas que permanecem dos mais terríveis acontecimentos da história. Intenso, surpreendente e com uma história fascinante... Muito bom.
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