terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Biblioteca Perdida do Alquimista (Marcello Simoni)

Para Ignazio de Toledo, servir o rei de Castela traz mais responsabilidades que privilégios. E as razões que levaram o monarca a chamá-lo à sua presença não tardarão a confirmar as suas convicções. Fernando III preocupa-se com a segurança de Branca de Castela, ou assim o afirma. Por isso mesmo determinou que se averiguasse o seu paradeiro. Mas há uma razão para que a presença de Ignazio, simples mercador de relíquias, ter sido requerida. Diz-se que a rainha foi raptada por um tal conde de Nigredo, do qual se diz ser um alquimista. Assim, presume-se que os invulgares conhecimentos de Ignazio serão necessários e este não pode recusar-se a intervir. Principalmente a partir do momento em que o seu antigo mestre apoia os desígnios do rei. Mas nada é o que parece na busca pelo conhecimento, e Ignazio irá encontrar adversários onde menos espera.
Com um protagonista e várias outras personagens em comum com O Mercador de Livros Malditos, este é um livro que facilmente cativa. Desde logo, o reconhecimento imediato das personagens - para quem já leu o livro anterior - facilita a empatia, ao mesmo tempo que a passagem de algum tempo entre o enredo dos dois volumes permite assimilar as diferenças operadas sobre os seus temperamentos. Além disso, as personagens são, no geral, carismáticas por natureza, tornando-se intrigantes pelo que revelam de si mesmas. Ignazio, com a sua aura de mistério e a eterna luta entre racionalidade e afecto. Uberto, com os sentimentos ambíguos relativamente ao pai e o equilíbrio de razão e emoção que a Ignazio lhe falta. E Willalme, com a sombra do passado a servir de base à impetuosidade nos seus actos. Em conjunto, formam uma boa equipa, complementam-se mutuamente e proporcionam um intrigante trio para viver a aventura que os espera.
Quanto ao enredo em si, não chega a ser de leitura compulsiva, mas evolui a um bom ritmo, com um equilíbrio bastante bem conseguido entre acção e mistério. Além disso, o autor constrói também bons antagonistas para as suas figuras centrais, o que permite momentos de grande intensidade, algumas revelações inesperadas e uma sucessão de acontecimento que é, na sua totalidade, muito cativante e que culmina num final particularmente bom.
Por último, a nível de contexto histórico, é de destacar a forma como este é desenvolvido em íntima ligação com o evoluir do enredo. Há muito de relevante neste livro, quer no que respeita às inimizades históricas, quer no que toca a questões de heresia, ou ainda às possibilidades de crença no sobrenatural. E o autor desenvolve todos estes elementos de forma gradual, apresentando todos os pormenores relevantes, mas sem cair em descrições excessivas. O ritmo da narrativa nunca perde, por isso, a envolvência, e nenhuma informação relevante fica por apresentar.
A soma de tudo isto é um livro cativante, com personagens bem desenvolvidas e um bom equilíbrio entre acção, contexto e até mesmo um toque de emoção. Muito interessante, portanto, e muito bom.

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