terça-feira, 10 de setembro de 2013

Quinta-feira no Parque (Hilary Boyd)

Jeanie está a chegar aos 60 anos e não se sente velha. Mas parece ser a única a pensar assim. O marido, reformado há já alguns anos, não partilha a sua cama há uma década e está agora obcecado com a ideia de ir viver para o campo - independentemente de isso ser ou não o que Jeanie quer da vida. Além disso, a razão que levou George a retirar-se para outro quarto é um mistério que nunca desvendou e que se tornou um abismo entre ambos. Ainda assim, não se deitam a perder décadas de um casamento sem uma grande razão. Razão que pode aparecer onde menos se espera. Ao conhecer Ray no parque onde vai brincar com a neta, Jeanie volta a sentir coisas que julgava ultrapassadas. E que lhe despertam uma nova perspectiva relativamente à sua forma de viver. Mas como é que se deixam rotinas, um marido que a ama e a estabilidade de uma família depois de tanto tempo?
Tendo como base a história de um casamento e de um romance, não necessariamente interligados, este é um livro que se centra, em grande medida, nas emoções. Em primeiro lugar, nos dilemas e nos sentimentos de Jeanie, à medida que descobre o que sente sobre as suas rotinas e o atracção que desenvolve relativamente a Ray. Mas também os sentimentos do próprio Ray, os do marido de Jeanie e os da sua filha. Claro que o romance é, muitas vezes, o elemento mais marcante e a base dos momentos mais fortes, mas tão relevantes como a ligação entre Jeanie e Ray são as questões do casamento com George, as rotinas que se estabeleceram entre ambos e o dilema entre a estabilidade da relação presente e a incerteza do futuro. Tudo isto está presente na história de Jeanie e são estas questões o grande ponto forte deste livro.
Outro ponto forte é a escrita, leve e agradável mesmo nos momentos mais emotivos, e com um cativante sentido de humor a servir de base a algumas situações particularmente bem conseguidas. A nível de enredo, há algumas situações mais previsíveis, até porque a forma como as relações evoluem aponta, desde cedo, para o que irá acontecer no final. Ainda assim, a autora consegue criar situações envolventes e, mesmo havendo alguma ambivalência na caracterização das personagens, notória particularmente, nos conselhos algo contraditórios de Rita, há em quase todos os intervenientes o suficiente  - seja de carácter, seja de experiência passada - para despertar empatia. 
A soma de tudo isto é uma história que, mais marcante pelas pequenas coisas que pelos grandes acontecimentos, cativa, ainda assim, pela escrita agradável e pela envolvência de um enredo pontuado por momentos especialmente tocantes. Gostei.

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