terça-feira, 15 de agosto de 2017

A Mulher Desaparecida (Sara Blædel)

Agora que o passado de Louise finalmente ficou para trás, ela e Eik parecem estar a construir uma relação mais sólida. Mas tudo muda no dia em que, se dar qualquer explicação, Eik desaparece subitamente. Pouco depois, descobrem que foi detido em Inglaterra enquanto tentava invadir a casa onde uma mulher foi assassinada. Tudo começa a fazer sentido quando descobrem que a morta é Sofie Parker, a namorada que Eik deu como desaparecida dezoito anos antes. Mas saber quem ela é não desvenda quem a matou. E, se o comportamento de Eik é, no mínimo, suspeito, então cabe a Louise descobrir a verdade.
Centrado essencialmente num caso com ligações ao passado, mas não se cingindo a elas, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, por ser possivelmente o mais leve dos três. E isto é inesperado, em primeiro lugar, pelas circunstâncias misteriosas do passado, já que o desaparecimento de Sofie deixou marcas poderosas em Eik, mas também pelo tema complexo que emerge das pistas que vão sendo descobertas. Ainda que seja o caso o cerne da narrativa, há grandes ligações à vida pessoal das personagens e, assim sendo, surpreende, até certo ponto, a forma como estes laços vão ficando para segundo plano.
Ora, isto deixa alguns sentimentos ambíguos, pois, se as descobertas iniciais abalam a relação de Louise e Eik, a forma rápida como tudo se resolve deixa uma certa curiosidade insatisfeita. Teria sido interessante ver um pouco mais da forma como Louise lida com as questões privadas, até porque a situação com Eik não é o único problema pessoal que Louise tem nas mãos. Ainda assim, tendo em conta a evolução do caso, faz algum sentido que estes aspectos tenham ficado um pouco para trás.
O que me leva ao grande ponto forte deste livro: as motivações do caso. Há na história de Sofie Parker, no passado e nas acções a que este passado a motivou, uma teia interessantíssima de questões pertinentes, não só quanto à viabilidade das suas escolhas como no que diz respeito às questões éticas subjacentes. E a forma como a autora aborda o tema, tendo o cuidado de realçar, ao longo do caso, pontos de vista divergentes, faz com que tudo pareça bastante mais realista - ainda que fiquem algumas perguntas sem resposta.
E depois há a escrita, claro, e a forma como a autora consegue entrelaçar pequenos fragmentos do passado com o enredo do presente, de modo a apresentar uma perspectiva mais clara das motivações de Sofie. Estão nesses pequenos momentos alguns dos episódios mais marcantes de todo o enredo e vê-los de uma perspectiva diferente torna o impacto da história um pouco maior.
Tudo somado, fica a imagem de uma narrativa inesperadamente leve e centrada principalmente no caso a investigar, mas em que a complexidade do tema e os vislumbres de uma vida pessoal para lá do mistério tornam tudo mais intenso e intrigante. Mais uma boa leitura, portanto, numa série que vale a pena descobrir.

Título: A Mulher Desaparecida
Autora: Sara Blædel
Origem: Recebido para crítica

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