Judith Rashleigh julga ter deixado o passado para trás. Sob um nome falso, construiu uma nova identidade enquanto galerista e está a viver a vida que sempre esperou conseguir conquistar em Veneza. Mas o passado não parece querer ficar para trás e as pontas soltas que Judith deixou põem-na de novo em risco. Alguém sabe o que ela fez e quer acertar contas com ela. E o que começa com alguns objectos mudados de posição não tarda a transformar-se numa teia de intriga e morte com graves consequências para todos os envolvidos.
Se uma das primeiras coisas a cativar em Maestra tinha sido a forma como a autora partira de um enredo erótico e sedutor, para depois fazer surgir uma narrativa bem mais sombria, o que acontece neste segundo volume é um elevar deste estranho equilíbrio a um novo nível de intriga e perigo. Claro que, tendo em conta os acontecimentos anteriores, não era propriamente de esperar que Judith se safasse assim tão facilmente, mas o que, em Maestra, era uma teia tecida ao ritmo da necessidade, ganha em Domina novos níveis de planeamento. E o resultado é uma história talvez um pouco mais pausada, mas mais complexa a nível de planos e de intrigas - e, claro, sem nunca perder de vista o equilíbrio entre mistério e sensualidade em que toda a história parece assentar.
Há também uma outra evolução curiosa em comparação com o livro anterior. Antes, Judith transformou-se de rapariga inocente em mulher sem escrúpulos, perdendo, pelo caminho, as suas facetas mais empáticas. Curiosamente, agora parece acontecer o contrário, pois, apesar de não ter limites no que toca a defender a sua posição, Judith começa a revelar partes de vulnerabilidade, que, apesar de todos os crimes e intrigas, permitem uma visão mais compreensiva do que a faz andar. Além disso, tendo em conta a forma como tudo termina neste segundo volume, esta estranha e crescente empatia contribui em muito para a imensa vontade que fica de saber o mais cedo possível o que acontecerá a Judith a seguir.
Mas voltando aos acontecimentos e ao tal equilíbrio entre sensualidade e mistério. Neste ponto da narrativa, não é propriamente surpreendente a capacidade de Judith de fazer seja o que for para defender a vida e o que nela julga mais importante. Mas, e mesmo sabendo disso, nunca deixam de surpreender os novos planos e acções que vai concebendo a partir de circunstâncias particularmente delicadas. E, sendo a história contada pela voz de Judith, este desenrolar de planos e subsequentes concretizações, abre caminho a um percurso cheio de surpresas e de momentos cada vez mais intensos - que culmina num final particularmente forte.
Ora, num mundo em que todos se movem principalmente segundo os seus próprios interesses, a verdade é que nenhuma das personagens é propriamente aquilo a que se poderia chamar uma "boa pessoa", o que faz com que a empatia leve algum tempo a construir. Ainda assim, o impacto dos grandes momentos e a inesperada evolução de Judith compensam amplamente esta distância inicial, deixando as melhores expectativas para o que poderá ser a conclusão desta história.
A impressão que fica é, pois, a de um segundo volume que, longe de ser apenas um livro de transição, traça uma muito interessante evolução para a sua protagonista e os meandros sombrios em que se move. Intenso, intrigante e cheio de surpresas, cativa desde muito cedo - e deixa muita, muita curiosidade em saber o que virá a seguir.
Título: Domina
Autora: L. S. Hilton
Origem: Recebido para crítica
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