No princípio, havia o fogo e a neblina. Depois... fizeram-se deuses. Deuses poderosos e sábios, trapaceiros e intriguistas, de inconcebível beleza ou de estranha fealdade. Deuses que perdurariam na memória do mundo e cuja história de um grande fim teria de ser também a de um recomeço. Esta é a história de Odin, de Loki, de Thor, de Freya e de tantos outros - dos deuses que surgiram no princípio e de um despertar há muito previsto. Histórias de afecto, de intriga e de traição que têm como raiz um conjunto de deuses... estranhamente humanos.
Sendo este livro essencialmente um recontar dos mitos nórdicos, não se pode dizer que seja uma história particularmente nova - principalmente se já se tiver algum conhecimento prévio desta mitologia. Mas - e este é um dos primeiros aspectos a cativar neste livro - a verdade é que isso não é assim tão importante. Contadas num tom que faz lembrar o das histórias contadas à volta da fogueira, estas aventuras lêem-se como se tudo fosse novo, como se Loki, o desordeiro, Thor, com o seu martelo, e Odin, o pai de todos, não fossem figuras mais que conhecidas. Porquê? Porque tudo flui com uma naturalidade tão simples e eficiente que tudo o resto se esquece ao entrar na história.
Outro aspecto muito interessante neste livro é a escolha das histórias em si, que parece atingir um equilíbrio particularmente delicado. Por um lado, a mistura de episódios mais conhecidos com outros menos explorados noutras obras permite descobrir algo de novo mesmo quando todas as figuras são familiares. Por outro, o facto de haver espaço para episódios leves e divertidos, bem como para outros bem mais dramáticos e sombrios, cria uma diversidade emocional que faz com não haja nada neste livro que não seja empolgante. E o resultado é um conjunto variado de aventuras, algumas com mais impacto no cenário global, mas todas cativantes e intrigantes.
E depois há as personagens. É certo que muitas das características que o autor confere aos deuses neste livro correspondem às das figuras originais nos mitos nórdicos - mas esta equivalência só faz com que tudo se torne mais real. É fácil reconhecer-lhes as facetas mais benévolas - e as mais sombrias. E o facto de todos terem comportamentos mais e menos nobres, revelando-se no melhor e no pior, realça também a humanidade destes deuses, evidente, acima de tudo, em Loki, tão capaz de meter os deuses em sarilhos como de os salvar dos problemas que causou.
Leve e cativante na sua visão dos mitos nórdicos, este é, portanto, um livro que, partindo de um conjunto de histórias já conhecidas, consegue dar-lhes um toque único e pessoal. Ao mesmo tempo que desperta emoções fortes e alimenta a curiosidade de saber sempre mais sobre este mundo de deuses e monstros - onde cada fim pode ser um novo princípio. Recomendo.
Título: Mitologia Nórdica
Autor: Neil Gaiman
Origem: Recebido para crítica
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